8 de mai. de 2021






Por ROBERTO VIEIRA


Há exatos cinquenta anos, Paulo César Caju era proclamado o novo Rei do futebol brasileiro na capa da revista O Cruzeiro e nas palavras de Edson Arantes do Nascimento, Pelé, prestes a entregar a coroa na sua despedida da seleção no mês de julho no Maracanã diante da Iugoslávia.


Enquanto João Havelange apresentava a Taça Jules Rimet para Josephine Baker e perambulava pela Europa com o troféu, Paulo César surfava na a onda do sucesso, moderninho, socialite, curtindo a vida adoidado, num estilo mais Wilson Simonal que Pelé.


Até aquele instante, tudo se passara na velocidade alucinante daquela época para o menino pobre que aos oito anos sonhava ver os craques da seleção campeã do mundo chegando da Suécia e desfilando nas ruas do Rio. Três anos depois, Paulo brilhava nos infantis do Botafogo quando foi adotado pelo treinador Marinho, pai do futuro zagueiro Fred. Com a família de Marinho, Paulo viajou o mundo e morou em Honduras e na Colômbia, locais de trabalho do pai adotivo. Fluente no espanhol, iniciou sua carreira no Olímpia de Honduras e depois no Atlético de Barranquilla. Quando Marinho retorna ao Brasil, Paulo integra um ataque avassalador com os jovens Zequinha, Dionísio e Arílson.


Em 1970, Paulo se torna tricampeão no México, na reserva da melhor seleção de todos os tempo. Um reserva com pinta de titular para o técnico Zagalo. Bola, música, mulheres e Dona Esmeralda, sua mãe, são a sua paixão. Amigo de Elis, Milton Nascimento, Jorge Ben, Ivan Lins, inteligente, sorriso largo, o novo Rei troca o Botafogo pelo Flamengo e brilha ao lado de Doval na conquista do Torneio do Povo de 72 e certame carioca.


Mas Paulo Cesar não chega a ser amado pelos brasileiros, nem mesmo como seu irmão gêmeo na fama, Wilson Simonal. Negro, rico e com namoradas louras, Paulo César era demais para o público brasileiro, o qual admitia o bem comportado Pelé mas não digeria Sammy Davis Juniores tropicais.


Dizer que Paulo Cesar não brilhou é exagero. Estrela da Maquina tricolor e figura reluzente na França, Di Stefano e Kubala gostavam do craque poliglota e bom de bola, Paulo sucumbiu nas acusações de pipoqueiro na Copa de 74 e no gol perdido diante da Holanda. Bom de bola, ágil, inteligente, seu irmão Fred confidenciou certa vez o quanto Paulinho era adorado pela família, e o quanto trocou os pés pelas mãos nos noventa minutos de fama. Tudo ao contrário dos ensinamentos do saudoso Marinho.


Atualmente, Paulo é um dos melhores cronistas do nosso futebol. Sabe muito, porque também viveu em campo as peripécias das manchetes e dos gols, como o também fera Tostão.


Sendo historicamente justos, Paulo viveu a vida que decidiu viver, mas sob o peso inenarrável do menino que queriam que fosse Rei. Uma responsabilidade na qual até hoje só Pelé conseguiu tirar nota DEZ.


E ninguém pode ser julgado nessa vida por não conseguir ser Pelé.



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