Roberto Vieira
Há vinte anos o genial Didi disse adeus.
Didi que desafiou o racismo.
Entrando pela porta da frente do Fluminense.
Didi que enfrentou a religião.
Casando pela segunda vez por amor.
O amor e a etnia eram tabus, dirão alguns.
Hoje já não são.
Será?
Há quarenta e poucos anos surgiu a primeira torcida gay no Brasil.
No Rio Grande do Sul.
Escândalo.
Quarenta e poucos anos depois... o escândalo continua.
Gil do Vigor chegou ao Recife.
Alegre.
Gil que dançou com a camisa do Sport no aniversário do Leão.
Um conselheiro não gostou.
Gil estaria denegrindo a história do Sport.
Observem bem a palavra 'denegrindo'.
Como se o futebol fosse heterossexual.
O caso nos leva a uma reflexão.
Uma reflexão histórica fundamental.
Racismo e homofobia não são exclusividade de ninguém no Brasil.
Não vale a pena condenar Fluminense, Coritiba ou Náutico no passado pelo racismo.
Todo mundo era e é racista no Brasil até hoje.
Com raras e espetaculares exceções.
Do mesmo modo que todos são homofóbicos no futebol e na sociedade.
Com raras e espetaculares exceções.
Em ambos os casos, muitos apontam o dedo para o adversário.
Mas no particular se proclamam nórdicos XY.
Didi sentiu isso na pele e na paixão.
Gil sentiu isso com a camisa do seu time de coração.
Até quando?
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