29 de ago. de 2017




Por ROBERTO VIEIRA


O menino Chico Buarque recebe a notícia.

Dez anos de idade.

Chico não era Pagão.

Para seu desencanto o que era encanto acabou.

Chico que tinha fé nos gols.

Chico que tinha fé no Major Galopante.

Canhota triunfante.

Puskas que era a fera das feras da esfera.

A Hungria de Puskas derrotada pelo irmão alemão.

Chico passeia na Roma quente.

Verão.

Não acredita em mais nada.

Senão na bola chutada por Rahn.

Em casa, Lizst toca na radiola do pai.

Apaixonada

Apaixonante.

Bela.

Bartók.

O pai vibra silencioso com o milagre de Berna.

Lembrança dos amores da guerra.

Chico nada sabia dos amores e cala.

A expressão da derrota metafísica magiar na alma.

O desejo de liberdade nas ruas de Budapeste guardada.

Devia ser proibido debochar de quem se aventura em língua estrangeira.

Chico desconfia de todas as patentes.

A única verdade verdadeira do futebol.

São as maria-chuteiras.

Os sambas, a construção, o Pedro Pedreiro e as caravanas.

Chico atravessa o século imerso em almanaque.

Anos, meses, semanas.

Para estufar esse filó?

Para cada paralelepípedo da velha cidade onde brincam crianças de bola?

Só.

Parábolas em pentagramas.

O velho e gorducho Major.

Rugas.

Chico agarra o violão.

Chico é Grosics na solidão de mil anos atrás.

Chico desengaveta seus botões.

Para Toth para Bozsik para Czibor.

Para Bozsik para Kocsis para Bozsik.

Para Hidegkuti para Lantos para Puskas.

Gol da Hungria.

Gol da Hungria.

O menino Chico Buarque recebe a notícia.

Angustiado.

Dez anos de idade.

O leite derramado.

Chico vira o jogo da vida no apartamento do velho Rio de Janeiro.

Na paralela do impossível.

A Hungria se torna o Polytheama.

E se é verdade que a Hungria não é invencível.

Também é verdade que o Polytheama sabe apenas vencer.

Pois o menino Chico, como todos os meninos.

Fez de tudo e nada de se esquecer...


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