1 de jun. de 2017



ROBERTO VIEIRA
O final da Ditadura estava distante. As marcas da selvageria davam suas caras em nossa sociedade. O mês de junho de 1977 anuncia a visita da Primeira Dama americana, Rosalyn Carter, ao Brasil. Rosalyn que desafiaria Geisel ao expor os subterrâneos do nosso regime. Geisel que se sentiria ofendido por ter de manter entrevistas com uma mulher – e não com seu marido, Jimmy Carter.
Foi nesse instante que surgem manchetes da prisão e tortura do padre americano Lawrence Rosebauch e de seu auxiliar o Missionário Tomás Capuano, detidos na Avenida Sul.
Lawrence calçava sandálias havaianas, camisa esportiva e calça arregaçada, próprias do seu trabalho junto às comunidades carentes.
Os policiais estranham o fato de Lawrence habitar a Praça Dom Vital, onde dorme, além de recolher restos da feira do Mercado de São José para alimentação dos mendigos nas ruas da cidade.
Quando dizem que o Bairro dos Coelhos que frequenta é ‘antro de marginais’, o Padre retruca que é apenas seu lugar de trabalho.
Preso, algemado e espancado na Delegacia de Roubos e Furtos, o Padre Lawrence é solto cristianamente ao terceiro dia. Relata seu sofrimento na Comunidade dos Padres Oblatos e esta encaminha o caso à Arquidiocese do Recife e Olinda que publica o caso em boletim.
Dias depois seu depoimento é tomado no DOPS (Departamento da Ordem Política e Social) sob supervisão do Cônsul americano e do seu advogado.
Nas tribunas, os deputados Marcus Cunha e Roberto Freire do Movimento Democrático Nacional (MDB) se manifestam contra as torturas.
Apontam o dedo na direção do delegado responsável pela ação.
Toda a violência ganha seu caráter ironicamente dramático quando se sabe qual o motivo da prisão do Padre Lawrence e do missionário Capuano no Boletim de Ocorrência.
O motivo da prisão seria a falta de licença do carrinho de mão do Padre.
Carrinho de mão onde ele depositava os restos de comida que serviriam de alimento aos mendigos de nossa cidade...


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