6 de jun. de 2017



Por ROBERTO VIEIRA

2017, o Chile é a primeira seleção a chegar à Rússia para a Copa das Confederações... em 1973, chilenos pisaram em Moscou para um jogo de medo e terror.

Armando Marques mira a tribuna.
O vento frio percorre o Estádio Central Lênin.
Cinquenta mil pessoas.
Nenhuma televisão.
Nenhum jornalista.
O telefonema da Confederação Brasileira de Desportos é claro.
Vladimir Kaplichny se aproxima do centro de campo.
Figueroa não tem sorrisos – fora detido no aeroporto.
Alguns chilenos gritam ‘Allende’ num canto qualquer.
Francisco Valdez chega para o toss.
Já não existem relações entre chilenos e soviéticos.
Existe apenas a FIFA e essa eliminatória pirandélica.
Blokin e seus compatriotas ucranianos da seleção estão longe dali – em Kiev.
Blokin se desfaz nos pés de El Mariscal.
Alamos está preocupado com Pinochet.
Alamos está preocupado com sua diabetes.
A bola rola no sigilo de Moscou.
Os girassóis da Rússia morrem no Estádio Nacional.
Gritos nos calabouços vestiários.
Sepulturas na marca de pênalti.
Brejnev julgava que seria fácil – uma goleada.
O Chile seria mais simples que França e Irlanda.
Mas a bola não entra.
Pinochet é congratulado pelos centuriões.
Os girassóis da Rússia estão mortos no Estádio Lênin também.
Armando Marques apita o final da partida.
Olha pro céu e agradece.
O zero a zero leva tudo para o jogo de volta em Santiago.
Um jogo jogado por apenas um time: o Chile.
Pois a União Soviética não quis jogar no estádio feito Gestapo.
Por questões éticas e morais.
Por receio de perder na bola.

E só os deuses do futebol podem imaginar o que teria sido esse jogo de volta.


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