Por
ROBERTO VIEIRA
2017,
o Chile é a primeira seleção a chegar à Rússia para a Copa das Confederações...
em 1973, chilenos pisaram em Moscou para um jogo de medo e terror.
Armando Marques mira a tribuna.
O vento frio percorre o
Estádio Central Lênin.
Cinquenta mil pessoas.
Nenhuma televisão.
Nenhum jornalista.
O telefonema da
Confederação Brasileira de Desportos é claro.
Vladimir Kaplichny se
aproxima do centro de campo.
Figueroa não tem
sorrisos – fora detido no aeroporto.
Alguns chilenos gritam ‘Allende’
num canto qualquer.
Francisco Valdez chega
para o toss.
Já não existem relações
entre chilenos e soviéticos.
Existe apenas a FIFA e
essa eliminatória pirandélica.
Blokin e seus
compatriotas ucranianos da seleção estão longe dali – em Kiev.
Blokin se desfaz nos
pés de El Mariscal.
Alamos está preocupado
com Pinochet.
Alamos está preocupado com
sua diabetes.
A bola rola no sigilo
de Moscou.
Os girassóis da Rússia morrem
no Estádio Nacional.
Gritos nos calabouços
vestiários.
Sepulturas na marca de
pênalti.
Brejnev julgava que
seria fácil – uma goleada.
O Chile seria mais simples
que França e Irlanda.
Mas a bola não entra.
Pinochet é congratulado
pelos centuriões.
Os girassóis da Rússia
estão mortos no Estádio Lênin também.
Armando Marques apita o
final da partida.
Olha pro céu e
agradece.
O zero a zero leva tudo
para o jogo de volta em Santiago.
Um jogo jogado por
apenas um time: o Chile.
Pois a União Soviética
não quis jogar no estádio feito Gestapo.
Por questões éticas e
morais.
Por receio de perder na
bola.
E só os deuses do
futebol podem imaginar o que teria sido esse jogo de volta.
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