ROBERTO VIEIRA
Tenho absoluta certeza
de que Náutico, Santa Cruz, Sport, América e Central foram construídos por
homens de bem, pessoas que acreditavam na fraternidade, na honestidade e na
associação de pessoas rumo ao ideal comum. Todos eles. Homens que diziam suas
verdades diante de seus eventuais opositores, homens que traçavam seus limites
e fronteiras com clareza e idealismo.
Por isso, tais
instituições se tornaram centenárias – ou quase no caso centralino. Por isso,
elas representam um importante polo de identidade cultural na nossa sociedade.
Por isso, milhares de pessoas se associam a estes clubes e defendem suas cores na
paixão dos esportes.
A modernidade, ou seria
a falsa modernidade, nos coloca face a face com outro grupo de pessoas. Pessoas
que não construíram o clube, que não jogaram por suas cores, que não colaboram
com a grandeza das instituições, pessoas que se arvoram no direito de infringir
todas as regras de civilidade no contato pessoal e das redes sociais com tudo
aquilo que foge do que consideram o ‘certo’.
O ‘certo’ para elas são
elas mesmo. Quem está fora do seu corpo e alma – já que intelecto anda raro – é
inimigo. Inimigo digno de ser destroçado, oprimido, ameaçado, acuado,
eliminado. Já não se trata de adversários apenas de equipes adversárias.
Atualmente, os inimigos estão vestindo suas próprias cores – pasmem. Qualquer
um que não reze o corão dos xiitas atuais é digno de ter a cabeça degolada ou
de ser pendurado qual Judas num poste de iluminação pública.
A falta de educação, a
ausência de civilidade, a inexistência de padrões civilizados de comportamento
transbordam de suas bocas, dedos e zaps. A velocidade dos teclados nos
Facebooks e aplicativos é feroz. Querem matar, esganar, trucidar dirigentes,
técnicos, jogadores, torcedores, Deus e o Diabo na terra do Sol.
Pausa para o bom senso.
Estas pessoas que
agridem gratuitamente em nome do futebol, e de outras coisas também, devem ser
detidas pelos seres humanos de boa vontade. Não é possível que carreguem a
tocha do fogo perpétuo incendiando pessoas e adjetivos que levaram décadas para
serem construídos com muito trabalho e honradez. Caso exista erro,
investiguemos os erros e punamos os culpados. Mas que as acusações sejam
levadas a cabo pelas autoridades responsáveis e sob a luz da razão e do
direito.
Porque se assim não for
feito, nenhum homem ou mulher de boa índole e boa vontade irá se expor a
trabalhar em um clube de futebol, arriscando sua reputação, sua família e sua
paz de espírito.
O futebol sempre foi
território de paixão. Muita paixão. Mas a paixão não pode existir desprovida do
respeito e do direito. O adversário dos campos não é o inimigo das ruas. A
vitória não se deve obter a qualquer preço. O desporto surgiu para unir as
pessoas em torno da beleza e da verdade.
É preciso que cada pessoa,
nas redes sociais e nos estádios de futebol, nas ruas e nas sedes do clube,
sejam responsáveis pelos seus atos. Por suas palavras e por seus textos. É
preciso que a paz e a legalidade voltem a reinar na terra do futebol.
Pois esta é a única
forma de que nossos clubes, símbolos sociais de nossa comunidade permaneçam por
mais cem anos.
Pois fora do direito,
do respeito e da verdade, existe apenas a barbárie e as trevas.
Cruel e absoluta.
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