29 de dez. de 2016






Por EDGAR MATTOS , MDM        


Há, na Praça da Alimentação ( antiga ), do Shopping Tacaruna, no restaurante Quanta Prima, do meu amigo Pedro Dueire, um garçom chamado Chico. Gordinho, boa gente, cordial e comunicativo, ele, no entanto, sai do sério, perdendo mesmo as estribeiras, quando se fala mal do Santa Cruz. Na época da derrocada do tricolor pernambucano, com a sua desastrosa queda para a 4ª divisão do campeonato nacional, profundamente revoltado com o insucesso do seu time, Chico tomou-se de um ódio mortal ao Presidente Edinho ao qual atribuía a culpa por tudo o que de ruim acontecera com o Santinha.

 
Certo dia, identificando entre os seus comensais um irmão do então presidente tricolor, endereçou a Edinho os maiores insultos. A tal ponto que o cliente, incomodado com o desaforado comportamento do garçom, foi se queixar ao dono do restaurante. Resultado: Chico só não foi demitido por se tratar de um excelente profissional, muito considerado pelo patrão. O que não o livrou de pegar uma suspensão de 3 (três )dias como uma advertência para que não mais levasse para o trabalho suas mágoas de torcedor.

 
Houve até um dia em que o próprio Edinho, inadvertidamente, aportou por lá para almoçar com alguns amigos. Ao saber da sua presença, Chico desapareceu. Inventou um pretexto qualquer para se ausentar da Praça, em fuga estratégica para não ter que servir ao seu desavisado desafeto.

 
Sabedor dessa sua paixão pelo Santa Cruz, eu o presenteei com um dos volumes do livro de Carlos Celso sobre o tricolor de Pernambuco. Claro que ele adorou o mimo e aumentou ainda mais a consideração que tinha para comigo.

 
Agora que vocês já conhecem essa figura folclórica, vou lhes contar, por insistência do Arsênio, a história de uma inocente brincadeira que fiz envolvendo os dois – o garçom Chico e o nosso Arsênio Meira de Vasconcelos.

 
Quando nos dirigíamos, Arsênio e eu, para almoçar no Quanta Prima, veio-me a idéia de dar um trote no Chico. Depois de explicar ao Arsênio, em breves palavras, aqueles lances da grande paixão do simpático gordinho pelo Santa Cruz, combinei com o amigo rubro-negro que iria apresentá-lo como diretor do clube do Arruda. E assim o fiz.

 
Chico ficou deslumbrado. Comentou com Arsênio alguns assuntos relativos à equipe do Santa, e, como não poderia deixar de ser numa conversa de autênticos tricolores, passaram, juntos, a desancar o Sport lançando sobre o clube da Ilha todas as maldições. Durante o almoço, o garçom-torcedor cumulou Arsênio de atenções especialíssimas. Até que, aproveitando a ida de Arsênio ao sanitário, chamei o Chico e lhe propus uma cena para enganar o meu amigo. Dizer que não iria lhe cobrar nada por ser ele diretor do Santa Cruz. E o Chico a representou com perfeição:

 
"Não senhor, Dr. Arsênio, diretor do Santinha aqui não paga. Fica por minha conta. Faço questão."

 
Surpreso e preocupado com o rumo que estava tomando a nossa farsa, o Arsênio, com o caráter que lhe é peculiar, reagiu veementemente.


"Não, de forma alguma, não posso aceitar isso!"

 
Realmente investido no papel que eu lhe dera, Chico permanecia irredutivel. E a situação já caminhava para um impasse quando resolvi por fim à discussão.

 
"Como vocês dois, tricolores, não estão com nada, quem vai pagar essa conta é o alvirrubro aqui, muito mais poderoso por estar na 2ª divisão."

 
Menos por esse argumento jocoso do que pela saída que ele propiciava para o "conflito", eles aceitaram a minha sugestão. Chico, é óbvio. por estar apenas representando; Arsênio, por se livrar do constrangimento que estava sentindo ao supor que iludira a tal ponto o pobre do garçom que ele, emocionalmente chantageado pela sua paixão pelo Santa Cruz, tinha se sentido compelido àquele gesto de homenagem ao pretenso dirigente do seu clube.

 
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Dias depois, indo ao Tacaruna, encontrei o Chico que logo indagou pelo meu amigo e, surpreendentemente, comentou:

 
- Dr. Edgar, por favor não diga nada a ele não que pode ficar chateado comigo. Mas, não sei porque, acho que Arsênio é nome de rubro-negro...



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