13 de dez. de 2016




Por CARLOS CELSO CORDEIRO, MDM

1957 foi um ano que me marcou para sempre. Neste ano tive a maior das perdas. Perdi minha mãe.
Minha mãe foi uma mulher extraordinária. Valente, arrojada, dinâmica, empreendedora. Casou muito jovem. Como era comum para as moças de um vilarejo como a Tabira do início da década de 1940. Quando casou, minha mãe ainda não tinha completado 19 anos.
Minha mãe Teve oito filhos, dois dos quais morreram ainda muito pequenos. Já depois de casada tornou-se funcionária pública federal. Trabalhava na Agência dos Correios de Tabira.
Antes de completar 10 anos eu gostava de ir para os Correios para ficar com ela e para olhar a parte esportiva dos jornais antes que eles fossem entregues aos destinatários.
Está viva em minha memória a dificuldade que ela enfrentava quando precisava se comunicar por telefone com o agente de outra cidade. O equipamento não ajudava. Ainda ecoam em meus ouvidos a voz dela emitida em tom alto na tentativa de se fazer ouvir: Alôô! É Tabiiira!
Lembro a luta dela para que os filhos avançassem nos estudos. Lembro, particularmente, do esforço empreendido para que eu fosse para o internato do Colégio de Caruaru num cenário de dificuldades.
No começo de 1957 minha mãe começou a apresentar problemas de saúde. Uma noite, ainda no começo do ano, teve que viajar às pressas, para tratamento em Recife. Fiquei tão amedrontado que minha cabeça de menino imaginou que aquela era uma viagem sem volta. Durante todo ano de 1957 minha mãe padeceu com a doença.
Como que por milagre, contudo, durante as férias de julho daquele ano ela estava muito bem. É verdade que mostrava o semblante um pouco abatido. Mas não parecia que estivera tão doente. E foi justamente neste mês de férias que meu amigo Airton Pires foi a Tabira pela primeira vez.
Terminadas as férias voltei para o colégio. E, empenhado com os estudos e sem presenciar todo o sofrimento, fui, sem querer, poupado daquele suplício.
Posso imaginar o que sofreram meus irmãos, todos mais novos do que eu, acompanhando de perto aquele quadro de dor.
No decorrer do segundo semestre, recebi a informação de que ela tinha ido para Campina Grande para continuar o tratamento.
No dia 6 de dezembro de 1957, uma sexta feira, retornei para casa, de férias. Quase na mesma época minha mãe voltou de Campina Grande para Tabira. Mas, nem foi para nossa casa. Estava acamada e foi para a casa do meu avô materno, pai Cícero.
Nunca vou esquecer a dor que senti no começo de uma tarde daquela semana quando meu pai, com o coração em pedaços, tendo em volta os filhos que já podiam entender alguma coisa falou: Meus filhos! Sua mãe vai morrer!
Pouco depois, sorrateiro, saí de casa me dirigindo para a casa de pai Cícero. Escolhi as ruas menos movimentadas para esconder o choro. No caminho encontrei pai Cícero. Abracei-me com ele chorando.
Finalmente, no dia 13 de dezembro, ela partiu.
(Um dos capítulos do livro CAMINHOS MEUS - CARLOS CELSO CORDEIRO)


3 comentários:

  1. Mesmo após tanto tempo decorrido, ao ler esse comovido depoimento, impossível não ser tomado pela emoção. Acentuada pela estima que devotamos ao amigo Carlos Celso.

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  2. Emocionante. Tenho 36 anos, perdi meu pai aos 30. E tb presenciei o sofrimento dele na luta contra o câncer. É triste e sofrido, mas prefiro lembrar dos momentos de extrema alegria que ele me proporcionou.
    Feliz Natal e abraço a todos.
    Desejo a todos desse site um feliz ano novo, menos no futebol, já que sou rubro-negro, hehehehehe.

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Comentários