6 de set. de 2016




  Por ROBERTO VIEIRA

Março de 1952. A Colômbia era o Eldorado do futebol após criar a sua famosa Liga Pirata. Nada de passe, nada de contratos, os jogadores abandonavam a escravidão e podiam jogar em quem pagasse mais. A FIFA se contorceu em ódio, mas os maiores craques do continente foram chegando aos montes: uruguaios, argentinos, chilenos, paraguaios. Os estádios colombianos se encheram de arte e gols. As noites colombianas e seus cabarés multiplicaram seus ganhos e seus amores. Heleno e Tim desfilando seu charme e decadência que nada é perfeito.

Como em um conto de fadas, no centro daquela Terra Prometida reinava o Balé Azul. O formidável Millionarios de Bogotá. Uma das maiores equipes da história do futebol mundial. Dirigido por Adolfo Pedernera, guiado por Nestor Rossi e trazendo Alfredo Di Stefano como a seta loura que dominava o tempo, espaço e imaginação.

Tampinha acorda e vira pra Bitum:

‘Vamos jogar contra quem?’

Bitum não sabe. Já são quase duas semanas desde o jogo contra o Deportes Quindio. O dinheiro do bicho já se foi. Deu saudade do Brasil e da Isaura.

Tampinha vira pro lado e volta a dormir.

Evaristo caminha preocupado no corredor. Aos dezoito anos, ele tem tantos sonhos quanto habilidade em seus pés. Quem sabe uma boa exibição não consiga uma vaga naquelas equipes colombianas que pagam seu futebol em ouro? Ele nunca sonhou ser jogador de futebol – mas dinheiro nunca fez mal a ninguém.

Balé Azul! O Madureira irá jogar contra o Balé Azul. O que pouco importa pra Bitum, mas parece ser a sorte grande para Evaristo.

Quinze mil expectadores pagam ingresso naquele domingo, dois de março de 1952 em Bogotá. Os quinze mil aguardam uma grande exibição regada a gols, muitos gols. Todos os gols marcados pelo Balé Azul. Para garantir que nada ia sair errado, no arco do Millionarios atua nada menos que Julio Adolfo Cozzi, campeão sul americano de 1947 pela Argentina. Um monstro debaixo das traves.

Pois é.

Só que aos quatro minutos, o centroavante Genuíno balança as redes de Cozzi sob o olhar de Pini e Nestor Rossi. Não há de ser nada. Di Stefano bate o centro, Mosquera é desarmado por Bitum que lança Tampinha na ponta esquerda: 2 x 0 com cinco minutos de peleja.

O Balé tem batuque de samba. Ângelo descobre Genuíno livre: 3 x 0. A torcida colombiana começa a bater palmas. Para o Madureira. Evaristo, já angustiado sem pegar na bola, acerta o ângulo de Cozzi: 4 x 0.

O Millionarios diminui.

Pra que?

Genuíno se invoca e manda bala: 5 x 1.

O intervalo é de risadas no vestiário brasileiro e de silêncio profundo no lado pirata.

De onde vieram esse caras?

Para aliviar a barra dos craques galácticos, o Madureira toca bola no segundo tempo. Aliviam o pé e Di Stefano diminui para 5 x 2. O que não modifica o olhar estupefato da plateia.

Bogotá não dorme.

Nestor Rossi e Di Stefano seguem seu caminho – em 1952 irão derrotar o Real Madrid na Espanha, o futebol nunca mais será o mesmo.

E se Evaristo não é contratado pelos colombianos, pelo menos ganha vaga na seleção brasileira na Olimpíada de Helsinque. No ano seguinte segue para o Flamengo.

Tempos depois, quando brilha no futebol espanhol, Evaristo – agora mais conhecido como Evaristo de Macedo - nunca perde a oportunidade de gozar com a cara de Di Stefano sobre aquele Balé Azul naquela tarde de domingo em Bogotá.


O dia em que a Colômbia se rendeu ao Madureira...


Um comentário:

  1. Antonio (nem vou dormir hoje...)6 de setembro de 2016 às 19:20

    Caro poeta,

    por enquanto esqueço Colombia, Brasil...

    vejas o que ocorre com o melhor time da Europa...

    sim, para quem não se lembra... SOMOS os legítimos campeões da Europa...

    agora, vejas o absurdo...

    por uma questão matemática e ALFABÉTICA... Ilhas Faroé e Andorra, respectivamente, estão à frente de Portugal...

    um absurdo futebolístico...

    isso é pior do que perder de 1 x 7...

    hehehe...


    Andorra – Letónia, 0 - 1
    Ilhas Faroé – Hungria, 0 - 0
    Suíça – Portugal, 2 - 0

    Classificação:
    1. Suíça 3 pontos/ 1 jogo
    2. Letónia 3/ 1
    3. Hungria 1/ 1
    4. Ilhas Faroé 1/ 1
    5. Andorra 0/ 1
    6. Portugal 0/ 1

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