Por
ROBERTO VIEIRA
Nas eleições para a
Câmara de Vereadores de São Paulo em 1959, o rinoceronte Cacareco foi o mais
votado. Foi com o apelido de Cacareco que a seleção pernambucana de futebol,
representando o Brasil na Copa América de 1959, enfrentou o Equador pela
primeira vez na casa do adversário...
O Brasil era Campeão do
Mundo. Menos de um ano depois, a Confederação Sul Americana de Futebol organiza
a Copa América na Argentina. Os anfitriões são campeões ao empatarem em 1x1 com
o Brasil. O placar de 2 x 2 dos brasileiros contra o Peru na rodada inicial deixara o Brasil na obrigação
de vencer o último jogo do torneio contra os donos da casa. O vice-campeonato
não seria nenhuma desonra, exceto por um detalhe sórdido. Diante de oitenta e
cinco mil torcedores no Monumental de Nuñes, o árbitro chileno Carlos Robles
encerrou o espetáculo quando Garrincha marcava o segundo gol do Brasil. Não
adiantaram protestos e briga. A Argentina é campeã continental em cima do
Brasil com Pelé, Garrincha e outros seis campeões mundiais na Suécia.
Sabe-se lá por que
cargas d’água, a Confederação Sul Americana decide marcar outra Copa América em
dezembro de 1959, desta vez no Equador. Cinco seleções se apresentam para a
disputa: Argentina, Brasil, Equador, Paraguai e Uruguai. João Havelange recebe
a notícia com preocupação. Era mais uma arapuca para os brasileiros, mas ele
não queria se recusar a participar do torneio. Pensa pra cá, política pra lá,
Havelange se lembra da seleção gaúcha vencendo o Pan-americano de 1956. Era uma
alternativa. Havia também o exemplo de 1957, quando a Bahia representou o
Brasil em dois jogos contra o Chile pela Taça Bernardo O’Higgins – desta vez
sem êxito.
João Havelange lembra
do amigo Rubem Moreira, presidente da Federação Pernambucana de Futebol (FPF),
grande responsável pela sua vitória na eleição para presidente da Confederação
Brasileira de Desportos (CBD). Diante da chiadeira dos mineiros e apupos do
eixo Rio-São Paulo, a seleção pernambucana é escolhida para representar o
Brasil na Copa América.
Rubem Moreira entrega a
seleção ao pernambucano Gentil Cardoso, técnico de renome nacional, então no comando
do Santa Cruz. A primeira convocação é carnavalesca, nela se encontram três
atletas do frágil Íbis: o goleiro Jagunço e os atacantes Vantu e Inaldo.
Manoelzinho do extinto ASAS, além de Joca e Neto do Ferroviário também entram
na lista. Tudo para agradar patrícios e plebeus.
Para entrosar o grupo
de jogadores, a FPF marca três amistosos. Infelizmente, o primeiro foi contra o
Ceará no estádio Getúlio Vargas, em Fortaleza, mais parecendo a ante-sala do
inferno. Imbuídos de toda rivalidade regional, os cearenses vencem por 3 x 2 aos
vizinhos que queriam dar uma de bacana
no Equador. Foi a primeira vitória do Ceará contra Pernambuco, deixando
cicatrizes no selecionado de Gentil Cardoso. Nem mesmo as vitórias de 5 x 0
sobre Alagoas e Sergipe nos amistosos seguintes apagaram as críticas da
imprensa.
Segundo o cronista e
historiador Givanildo Alves, a Ceará Rádio Clube chamou o escrete de ‘cacareco’
pela primeira vez. O mesmo apelido foi utilizado em entrevistas no Diário de
Pernambuco e nos comentários do jornalista Aramis Trindade do Diário da Noite. O
simpático rinoceronte das eleições paulistanas de 1959 vira sinônimo do pobre futebol
apresentado pelo selecionado pernambucano nos amistosos. Diz o ditado, quando
não se pode vencer, junte-se a eles. Mal a delegação pernambucana chegou ao Rio
de Janeiro com destino ao Equador, João Havelange presenteou Gentil Cardoso com
a miniatura de um... rinoceronte. Dá certo. O público adota o termo Cacareco
com carinho ao se referir ao selecionado. Mesmo as críticas contundentes perdem
sua força ante a lembrança do paquiderme.
No dia 30 de novembro
de 1959, a delegação embarca na Panair, mas a aeronave retorna de Congonhas
devido a vazamento de óleo em um dos motores. Após o susto, a viagem é retomada
no dia 1º de dezembro fazendo conexão em Lima. A equipe faz sucesso na capital
peruana - o ponteiro do Sport, Traçaia, dá show no violão formando quarteto
vocal com o atacante Zé de Melo e duas aeromoças. Dali, eles tomam avião da Pan
American Grace Airways (PANAGRA) até o aeroporto de Guayaquil, onde são
recepcionados com festa.
No dia 5 de dezembro,
Estádio Modelo de Guayaquil lotado, o rinoceronte Cacareco desfila orgulhoso
nos braços do massagista João de Maria. Atrás dele vem a delegação brasileira,
o dirigente Rubem Moreira, o médico Laudenor Pereira e o técnico Gentil
Cardoso. Uma constelação de craques participa da cerimônia. O jovem atacante
equatoriano Alberto Spencer surge para o mundo, Sanfilipo comanda a Argentina,
José Del Rosario Parodi defende o Paraguai, mas terríveis mesmo se provariam os
uruguaios Bergara Sasía e Escalada dispostos a provar que a Celeste ainda
estava viva após a humilhante desclassificação para a Copa de 1958.
O Brasil vence na abertura
do torneio. O jogo contra o Paraguai é duro – e os guaranis tiveram chances
claras de nos derrotar – mas a jogada iniciada por Clóvis aos 22 minutos
encontra Elias na ponta esquerda. Um toque de cabeça surpreende a marcação de
Luiz Gonzaga Torres. O atacante Paulo Pisaneschi aparece como um raio e balança
as redes de Samuel Aguillar. A rapidez da jogada não surpreende os
pernambucanos: Clóvis, Elias e Paulo atuavam por música no Clube Náutico
Capibaribe.
O Paraguai tenta reagir,
mas dez minutos depois novamente Paulo decreta 2 x 0 no placar. O gol foi
importantíssimo, pois Parodi diminui no minuto seguinte para desconsolo do
arqueiro Waldemar Chiarelli.
Pressão na segunda
etapa. A multidão acha que vai dar Paraguai... e Paulo sacode as redes
adversárias pela terceira vez aos 15 minutos. Parodi ainda diminui no final da
partida, porém o Brasil assume a liderança da tabela com o surpreendente Uruguai
de Sassia que goleia o Equador por 4 x 0.
O Uruguai é o
adversário seguinte e desta vez não adiantam os planos táticos de Gentil
Cardoso. Pernambuco resistiu bravamente até a metade do segundo tempo, só que
Sassia e Escalada fizeram 0 3 x 0 estampar a melhor qualidade do futebol
platino – não fosse o uruguaio Umberto Cabelli o pai do nosso futebol estadual.
Taticamente as duas
equipes se organizavam no passado – ambas no WM. Só que o WM uruguaio tinha a
firmeza de Troche e Gonzalez do Nacional
na defensiva.
Após essa partida,
Gentil Cardoso disse adeus ao WM. Trouxe o pujante Zé Maria Sales do Sport para
a equipe, sacando o tricolor Biu. O selecionado assumia o 4 -2– 4 importado dos
húngaros e foi com ele que derrotamos os donos da casa por 3 x 1.
Era o primeiro jogo
entre equatorianos e brasileiros naquele país. As seleções haviam se encontrado
seis vezes até então com seis triunfos da nossa equipe. Se o Equador tinha o
jovem Spenser, o Brasil trazia Paulo com três gols, o vice-artilheiro do
certame – Sanfilipo liderava com quatro tentos.
TAÇA PRESIDENTE DO EQUADOR
A partida valia taça. O
governo equatoriano colocou um troféu em jogo contra o país campeão do mundo. A
torcida que já estava animada foi à loucura aos 12 minutos. Cobrança de falta,
a defesa para em linha e o atacante argentino naturalizado equatoriano Carlos Raffo
não perdoa: 1 x 0.
Pela segunda vez na
Copa America, a seleção saía atrás. O time bota a bola pra frente e sai pra
guerra. Elias bate falta que desvia na barreira em escanteio. Traçaia deixa o
violão de lado e cruza na cabeça de... Paulo: 1 x 1. O atacante alvirrubro
empata com Sanfilipo na artilharia.
A torcida urra nas
arquibancadas. O Brasil se segura pra dar o bote. Aos 42 minutos, novamente o
entrosamento pernambucano resolve a parada. Elias acha Geraldo José que domina
com habilidade e manda um foguete para as redes de Alfredo Bonnard Jara –
simplesmente o maior goleiro da história do futebol equatoriano, eleito o
melhor arqueiro do Sul-americano de 1953, em Lima.
O intervalo chega com 2
x 1. A etapa complementar é dura, embora disputada com lealdade – Traçaia e
Paulo saem contundidos. Zé Maria comanda a defesa em tarde histórica com o
goleiro Waldemar. Quando as cortinas se fechavam e o Equador era todo ataque,
Zé de melo dispara e marca o terceiro gol do nosso selecionado.
A Taça Presidente do
Equador vai pra CBD, A cacareco derrotou os donos da casa. Pernambuco faz a
festa em Guayaquil.
Curiosamente, no dia
seguinte em Recife, a cama de gato era feita com Gentil Cardoso e o técnico
Ricardo Magalhães era anunciado para treinar o Santa Cruz.
O Brasil era vice-líder
e sonhava em ganhar essa posição definitivamente da Argentina no último jogo do
torneio. Mas os argentinos estavam mordidos – derrotados pelos uruguaios não
tinham mais chance de levar o título. Pra complicar, aos dois minutos Garcia
aparece livre e vence Waldemar: 1 x 0.
O selecionado se
recupera, equilibra a peleja, Zé de melo perde uma chance; Sanfilipo e Garcia
são detidos por Waldemar. Jogo difícil, até que Edson dos Santos ,o Geroldo do
Sport, falha e Sanfilipo entra pra marcar 2 x 0.
O marcador final é
enganoso deste jogo. Os pernambucanos diminuíram após cobrança de falta de
Geroldo aproveitada por Geraldo. Goiano teve a chance de empatar ao ficar cara
a cara com Jorge Osvaldo Negri, guarda valas do Racing Club. Foi a oportunidade
de mudar a história. No apagar das luzes, aos 44 e 45 minutos de jogo,
Sanfilipo marca duas vezes e estampa o inapelável 4 x 1 na memória da Copa
América.
Antes da viagem de
volta, o selecionado atuou em amistoso novamente contra o Equador. Mais uma
vitória pernambucana por 2 x 1. Tentos de Traçaia e Zé de Melo. Dois outros
amistosos no Peru contra equipes de Piúra e Arequipa ( 4 x 2 e 3 x 1) e o voo da
Panair resgata os heróis de Guayaquil.
Na chegada ao Recife,
nem parentes nem torcedores nos Guararapes. Ninguém sabia a data exata da
chegada dos atletas. O que era sonho virou realidade dois meses depois.
A Cacareco deu show no
Brasileiro de Seleções e só foi parada pelo forte selecionado paulista de Pelé
nas finais.
O time base da seleção
tinha seis jogadores alvirrubros: Waldemar, Zequinha, Gilvaldo, Paulo, Geraldo
José e Elias Soares.
Três rubro negros:
Geroldo, Zé Maria e Traçaia.
Dois tricolores: Clóvis
e Zé de Melo.
Uma equipe que deu o
pontapé inicial nos excepcionais anos 60 do nosso futebol...
olá querido poeta,
ResponderExcluirvolto, após 1 mês, e eis que temos:
- um novo presidente... (novo mesmo... só a 1ª dama)
- uma ex-presidente que vai tomar o chá da tarde com o Lula, enquanto jogam uma tranca... (tá bom... talvez não seja chá)
- um presidente do STF, de São Bernardo do Campo, que nunca leu a Constituição... (ah, talvez ele vá fazer parte da turminha da tranca, junto com o seu velho amigo...)
- agora... o importante... após esse mês... os nossos times...
os nossos times... os nossos queridos times, o Náutico e o Santos... continuam na mesma...
na hora H... ai, ai, ai... quanta decepção...
é... é... é melhor voltarmos pra política...
- será que vai dar tempo do Renan juntar-se à turminha da tranca?
- ou será que o Sérgio Moro irá solicitar que o ex-presidente mude de endereço?
aguardemos... aguardemos...
1 abraço a todos.
Kkkkkkkkkkk... isso é Pindorama!
ResponderExcluirquerido poeta,
ResponderExcluirPindorama?... não, não passei nessa cidade paulista...
hehehe...
1 grande abraço.
Antonio.
P.S. aproveitando o espaço...
um amigo, mui amigo, acaba de me falar:
"tás vendo... com a presidenta a gente perdia de 7 X 1...
bastou um impeachment, uma troquinha, e a gente já mete 3 nos adversários"
como sou democrático e educado... respondi: "é verdade, tens razão"
Pindorama.... hehehe