Por
ROBERTO VIEIRA
Tive sorte.
Fui criança e meu time
nunca levava gol.
Primeiro tinha um
Monstrinho.
Um Monstrinho que não
assustava as criancinhas, apenas os atacantes.
Tostão, Pelé e Ademir
da Guia tentaram em vão.
Nada.
Aquele paredão alagoano
era inexpugnável.
Soltava-se um homem do
rifle lá na frente.
E o resto corria por
conta dele.
Depois, trouxeram outro
semideus.
Um imenso armário
trajado de negro das Alterosas.
Era o ano de 1974.
Durante mais de dois
meses ele não tomou um gol sequer.
Mil seiscentos e tantos
minutos sem pegar a bola em suas redes.
Seu chute era impressionante.
Deixava Jorge Mendonça livre
na outra grande área.
Por causa deles desisti
de ser goleiro.
Eram bons demais,
perfeitos demais, ídolos demais.
Por causa deles também
desisti de ser atacante.
Porque as defesas deles
valiam por mil gols.
A sorte foi embora.
Em menos de trinta dias
perdi meus dois ídolos.
Lula e Neneca se foram
pra não mais voltar.
Fazer gol agora ficou
mais fácil.
Difícil mesmo é olhar
pra velha camisa número um e esquecer...
Esse é um texto que a gente lê e fica com inveja de quem o escreveu. Perfeito. Parabéns, Roberto.
ResponderExcluirTive a felicidade de assistir inúmeras partidas com esses dois extraordinários goleiros.
Na época, o tempo que Neneca ficou sem tomar gol foi recorde mundial. Não sei se já foi superado.