30 de abr. de 2021





Por ROBERTO VIEIRA

A bomba explode no colo. A bola balança as redes. Elba Ramalho canta o banquete dos signos na festa do trabalhador. 

'Discutir o cangaço com liberdade...'

O São Paulo favorito ao título brasileiro. O clube do Morumbi era uma seleção com sete jogadores da Canarinha e outro da Celeste. Mas o técnico Carlos Alberto Silva não avisou Ênio Andrade. 

E havia o Tiziu.

O tricolor saiu na frente com Chulapa em Porto Alegre. A ocasião era excelente. Milhões de brasileiros grudados na televisão assistindo à final do certame nacional. Vinte mil subversivos na noite do Rio de Janeiro, cantando e gritando palavras de ordem, imaginando-se em liberdade. Os porões não podiam ter melhor chance de mostrarem quem mandava na terra do Rei João. 

Tudo levava a crer no título do São Paulo e em uma grande explosão no edifício da redemocratização. 

Mas havia o pavio e havia o Tiziu.

A bomba programada para afundar de vez o país nas trevas realmente explodiu, só que no colo da ditadura, como bem afirmou alguém dias depois.

E o título do São Paulo se esvaiu na figura de um menino de Matozinhos. Um menino de fôlego inacreditável, um jogador com a cara do Brasil cantado por Beth Carvalho e Gonzaguinha. Um atleta que liquidou surpreendentemente com todo o destino apontando o vencedor de véspera. 

O Brasil foi dormir surpreso com os ventos que sopravam do Rio Grande nos pés de Paulo Isidoro de Jesus. 

Brasil que acordou com as imagens de um veículo em frangalhos no estacionamento de um show carioca.

Dias depois, o Grêmio de Jesus bateu novamente ao São Paulo com um gol de Baltasar, o artilheiro de Deus, mostrando que o clube gremista era melhor... de verdade. 

Enquanto isso, a explosão do Rio foi se transformando cada vez mais no sepulcro de mentiras no qual envelhecem todas as ditaduras. 

Saracuras no brejo sem novenas...

Parece um passado distante, mas está logo ali, há quarenta anos.

 



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