Por
ROBERTO VIEIRA
...
enquanto multidões se reúnem para o derradeiro adeus aos mortos de Medellín
1716.
A manhã de Weimar
recebe Bach.
João não tem muitas
ilusões sobre a humanidade.
Poucos entendem suas
composições.
Ninguém compreende seus
sonhos.
A cantata está quase
pronta – mas a fé começa a fraquejar.
Existe um contrato.
Existe esperança?
Maria Barbara cantaria
que sim.
Mas os homens se matam
por Deus.
Um menino sai correndo
com uma bola nas mãos.
Seus olhos brilham.
A bola é atirada no
chão e logo outro menino aparece.
O bairro é pobre, a
fome é muita.
Mas os meninos seguem
brincando com a bola.
Uma mulher grávida
chega para assistir a brincadeira.
Os olhos de Bach
observam a bola e a jovem mãe que canta.
Bach se lembra de Maria
Barbara cantando no oratório.
Como Maria cantava
esperando a chegada do Salvador.
Em um mundo tão cheio
de guerras e traições.
Em um mundo em que o
som pode ser proibido pelos monarcas.
Em um mundo de fé
sanguinária.
Bach retorna para casa.
A bola ainda pode dar
alegria aos meninos.
E quem sabe a sua música
não possa imitar a bola?
Quem sabe a música e a bola
não possam salvar os seres humanos?
Música e bola que
nasceram como derradeira alegria dos homens...
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