Por
ROBERTO VIEIRA
Era um moleque bom de
bola.
Pobre. Paupérrimo.
O homem bem vestido
conversa com a mãe:
‘Assina aqui. Vocês vão
ficar ricos!’
50% de comissão.
‘Fausto é nome
complicado. Deixa só o Silveray!’
Jeito simples, cabelo
cortado rente.
‘Cada jogo, um corte de
cabelo diferente!’
Deu sorte – e tinha
talento.
Marcou o gol da vitória
nos acréscimos.
‘O novo Ronaldo’.
Marcou mais um contra o
maior rival.
‘Neymar!’
Entrevistas eram
curtas.
Foi ensinado a prometer
os gols.
Um DVD com os dois gols
chegou ao Flamengo.
Foi contratado e
estreou no Maracanã.
Passou em branco contra
o Fluminense.
Balançou as redes
contra Vasco e Botafogo.
O moleque era Flamengo
desde a vida uterina.
‘Seu lugar é na Europa!’
Dessa vez não queria
ir.
Bateu as chuteiras – já
era feliz no Flamengo.
O contrato foi
esfregado nas fuças.
‘Quem quer ganhar
dinheiro não joga por amor, Silver!’
Enfrentou o inferno na Rússia.
Sofreu com as bananas
nas arquibancadas.
Ano seguinte estava na
China.
Uma temporada em
Portugal.
Outra na Espanha,
França, Itália.
Os gols eram poucos,
mas o nome de Silveray abria portas.
Ainda mais com a
passagem pela seleção brasileira.
Dois jogos, um gol
contra Andorra.
Currículo da canarinha
valia ouro.
A volta ao Brasil foi
apoteótica.
Ia jogar pelo
Corinthians.
E o primeiro jogo era a
decisão da Copa Brasil contra o... Flamengo.
Não dormiu naquela
noite.
Não conseguia andar em
campo.
Olhava pra camisa rubro
negra e sofria.
Jogo empatado.
O empate dava o título
ao Mengão.
Até que aos 49 minutos
da segunda etapa.
A bola cai nos seus pés
e ele vê o gol aberto.
‘Quem quer ganhar
dinheiro não joga por amor, Silver!’
O chute saiu forte,
preciso, longe do gol.
Ajoelhou-se em prantos.
As câmeras flagraram
suas lágrimas.
Até a torcida do
Corinthians calou seus xingamentos.
Ninguém suspeitou.
Silveray podia até não
jogar no Flamengo.
Mas dormiu na cama do
hotel com a faixa de campeão debaixo do pijama...
Rico, pra lá de Bagdá e
feliz.
O empresário que fosse
pra p... q.. p....!
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