26 de set. de 2016



 Por ROBERTO VIEIRA

Era um moleque bom de bola.
Pobre. Paupérrimo.
O homem bem vestido conversa com a mãe:
‘Assina aqui. Vocês vão ficar ricos!’
50% de comissão.
‘Fausto é nome complicado. Deixa só o Silveray!’
Jeito simples, cabelo cortado rente.
‘Cada jogo, um corte de cabelo diferente!’
Deu sorte – e tinha talento.
Marcou o gol da vitória nos acréscimos.
‘O novo Ronaldo’.
Marcou mais um contra o maior rival.
‘Neymar!’
Entrevistas eram curtas.
Foi ensinado a prometer os gols.
Um DVD com os dois gols chegou ao Flamengo.
Foi contratado e estreou no Maracanã.
Passou em branco contra o Fluminense.
Balançou as redes contra Vasco e Botafogo.
O moleque era Flamengo desde a vida uterina.
‘Seu lugar é na Europa!’
Dessa vez não queria ir.
Bateu as chuteiras – já era feliz no Flamengo.
O contrato foi esfregado nas fuças.
‘Quem quer ganhar dinheiro não joga por amor, Silver!’
Enfrentou o inferno na Rússia.
Sofreu com as bananas nas arquibancadas.
Ano seguinte estava na China.
Uma temporada em Portugal.
Outra na Espanha, França, Itália.
Os gols eram poucos, mas o nome de Silveray abria portas.
Ainda mais com a passagem pela seleção brasileira.
Dois jogos, um gol contra Andorra.
Currículo da canarinha valia ouro.
A volta ao Brasil foi apoteótica.
Ia jogar pelo Corinthians.
E o primeiro jogo era a decisão da Copa Brasil contra o... Flamengo.
Não dormiu naquela noite.
Não conseguia andar em campo.
Olhava pra camisa rubro negra e sofria.
Jogo empatado.
O empate dava o título ao Mengão.
Até que aos 49 minutos da segunda etapa.
A bola cai nos seus pés e ele vê o gol aberto.
‘Quem quer ganhar dinheiro não joga por amor, Silver!’
O chute saiu forte, preciso, longe do gol.
Ajoelhou-se em prantos.
As câmeras flagraram suas lágrimas.
Até a torcida do Corinthians calou seus xingamentos.
Ninguém suspeitou.
Silveray podia até não jogar no Flamengo.
Mas dormiu na cama do hotel com a faixa de campeão debaixo do pijama...
Rico, pra lá de Bagdá e feliz.

O empresário que fosse pra p... q.. p....!


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