21 de fev. de 2016







Por LUCÍDIO JOSÉ DE OLIVEIRA, MDM


Eu sou daquele tempo, do tempo da foto do time do Náutico posando para a posteridade no velho Aeroporto do Ibura, momentos antes do embarque para a Europa onde iria fazer história, maio de 1953. Sinto-me na obrigação de identificar a rapaziada, permitindo-me alguns comentários de valor histórico, pelo prazer de dividir com os companheiros do blog, daquele tempo e os de hoje, as lembranças de um futebol que marcou época.




A foto está invertida, o que revela a bandeirinha-símbolo do Náutico no bolso à direita do paletó, quando se sabe que o bolso fica normalmente no lado oposto, no alto à esquerda. Vamos aos nomes, da esquerda para a direita, começando pela fila de cima: Ivson, Wilton, Gilberto, Alheiros (jogador de formação rubro-negra, campeão pelo Sport em 47-48, seria campeão também com a camisa alvirrubra, em 51; voltaria ao Sport para encerrar a carreira sem mais a oportunidade de ganhar outro título), Genaro (o dr. Genário Sales, com i no nome na certidão de nascimento, maranhense, médico até há pouco em atividade como cirurgião em nossa capital; estudante na ocasião, seus conhecimentos básicos de medicina foram por demais úteis durante a viagem, servindo também eventualmente como  intérprete do grupo), Eládio de Barros Carvalho, o eterno presidente, hoje nome do estádio dos Aflitos, Ivanildo Espingardinha, o grande capitão Ivanildo Souto da Cunha, Lula Vitorino, zagueiro de área, Vicente, goleiro meio-titular, meio-reserva, Marcos Gaiola, meia-esquerda que ao lado de Gilberto, médio-volante pela direita, pensava o jogo, e, por fim, o velho Palmeira, o treinador campeão de quase tudo que disputou na região na primeira metade dos anos 50. 

Na fila de baixo: o jornalista Hélio Pinto, que acompanhou a delegação como correspondente do Diário de Pernambuco, cearense, há mais de uma década radicado no Recife (diziam que sua torcida ia para o América; ocorre que era muito difícil, jornalista ou não, deixar de torcer pelo excelente futebol do time do América naquele tempo), Caiçara, o companheiro de Lula na formação da zaga, nossa última lamentável perda, Dico, estudante de Arquitetura, amador, há mais de um ano fora do time, tendo sido convidado pela direção do clube para participar da excursão decerto como um prêmio por sua dedicação ao clube (jogava também basquete), não voltando a fazer parte do time principal depois do retorno ao Brasil, Djalma, centroavante reserva de Ivson, tendo feito mais gols que o titular na excursão (tinha sido artilheiro do campeonato e campeão pelo América, em 44), Irani, vindo Bangu no ano anterior (vice-campeão carioca em 51 e campeão com o Náutico em 52), vítima de contusão grave em jogo na Alemanha teve que retornar ao Recife, não mais voltando a jogar profissionalmente, Alcidésio, meia-esquerda, jogador cerebral, assim como Dico tendo retornado ao time depois de longa ausência, exclusivamente para colaborar com sua experiência no giro pela Europa (ambos, Dico e Alcidésio tiveram participação efetiva nos jogos; Alheiros foi outro que estava fora do time, incluído na delegação por seu futebol de força, sem dúvida um reforço para os jogos nos gramados pesados do inverno europeu), Helio Mota, o motorzinho da máquina alvirrubra, ponta-direita, fazia no segundo-tempo o time correr, recuando para o meio do campo como vinha fazendo na ocasião o também ponta-direita Telê, no Fluminense, e, por último, Manuelzinho, o outro goleiro que dividia o posto com Vicente, dois baitas goleiros. Falta na foto dois jogadores que embarcaram naquele dia no mesmo avião, o lateral Jaminho e o ponteiro Zeca, da ala-esquerda Alcidésio-Zeca, juntos desde os juvenis. Registre-se que o presidente Eládio não acompanhou a delegação, não viajando com o time.   

O comando na temporada pela Europa esteve a cargo do diretor Abelardo Paraíso. Ausente também na foto o médio-volante Eloi, outro que veio do Bangu como Irani, e que viajaria em outro avião, em outro dia. Ainda não havia se chegado a um consenso: devia viajar o massagista Doutorzinho ou Eloi, um jogador a mais na delegação? Viajou Eloi, totalizando 19 atletas para uma temporada de 12 jogos em 35 dias em gramados de França e da Alemanha, de 27 de maio a 30 de junho. Balanço da temporada:  cinco vitórias, um empate e seis derrotas, um equilíbrio que não foi reconhecido pela imprensa sulista, sempre de má vontade com o futebol da nossa região.



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3 comentários:

  1. Ótimo texto de Mestre Lucídio, retratando detalhes interessantes da excursão do Náutico ao Velho Mundo. Salvo engano, foi a primeira vez que um time pernambucano jogou na Europa.

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  2. Boas recordações, Lucídio. As reportagens de Hélio Pinto, no DP, tanto as dessa excursão, quanto as daquela de 1950 ao Norte do país e à Guiana Holandesa (Paramaribo), nossa primeira experiência internacional, eram verdadeiros "diários de viagem", detalhando aspectos também do extracampo. Eram reportagens de página inteira, ricas de informações, que eu - e certamente todos os alvirrubros - curtíamos com o maior prazer. Saudades do Hélio Pinto !

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