20 de nov. de 2012



VOLTA OLÍMPICA NA ILHA




O América em 1967 era um clube proustiano, em busca do tempo perdido. O mundo se contorcia na guerra entre árabes e israelenses, Cuba exportava a sua revolução pelo planeta, a China se desentendia com a União Soviética e o rock prosseguia seu destino de transformação dos bons costumes. Nomes como Che Guevara, John Lennon, Mick Jagger, Moshe Dayan, Kissinger, Hendrix e Roman Polanski eram a bola da vez.

1967 foi o ano do amor. 1968, o ano da ruptura. 1969 foi a vitória dos conservadores. Recife seguia perplexa entre a explosão de bombas no aeroporto dos Guararapes no ano anterior e o ataque do governo e dos religiosos ao controle de natalidade. Médicos entravam na dança e também cantavam que o DIU (dispositivo intrauterino) era instrumento do diabo. Segundo muita gente, o Brasil era imenso, rico e subpovoado. Então, barrigas e futebol pra que te quero!

No dia 4 de junho - EUA em polvorosa - na Ilha do Retiro o América entrou no gramado sonhando em fazer um bom papel. Favoritos no Torneio Início eram o Náutico, tetracampeão da competição, e o Sport do recém contratado técnico Rubem Minelli. O restante deveria fazer figuração. Mas, assim de mansinho, o clube da estrada do Arraial posicionou seus controles para o coração do sol pinkfloydiano.

Enquanto a Jovem Guarda emocionava as multidões, o América aproveitou para ganhar o título de melhor desfile, trazendo diante do seu pavilhão uma bela 'periquitinha'. Primeiro prêmio no bolso, na primeira peleja da tarde, o América escalava Ronaldo; Valdeci, Brito, Genival e Necão; Inaldo e Dílson, Babá, Macrino, Jairo e Déo. Um time que empatou na estréia diante do Central por 0 a 0, triunfando nas penalidades máximas: Brito sapecou os cinco chutes nas redes de Dida e Fernando Silva converteu apenas um.

O Santa Cruz despachou o Ferroviário com gol de Sílvio. Na sequencia, foi a próxima vítima esmeraldina. Mesmo com fortíssimo meio-campo composto por Luciano Veloso e Terto, o tricolor assistiu o atacante Jairo explodindo as redes de Lula Vasques, confirmando sua chegada na final sem a necessidade dos pênaltis.

Na outra semifinal, o poderoso Náutico caía nas cobranças de tiros diretos contra o Sport. Os rubro-negros, dentro de casa, viviam um momento de rara felicidade nos anos 60 – a vitória sobre o Náutico.

O Sport já bebia o chopp da conquista quando o América segurou o empate no tempo normal sem abertura de contagem, marcando um gol histórico pelos os pés de Macrino, na prorrogação de vinte minutos. Minelli levou as mãos ao rosto desesperado - Minelli que ainda era um guri frente ao técnico argentino Dante Bianchi, uma lenda do futebol pernambucano.

Nas arquibancadas a festa era verde e branca, cerca de quinhentos torcedores faziam pouco da noite de domingo. Porque ser campeão é bom. Ser campeão na Ilha do Retiro nas barbas do Leão? Não tem preço...

Ou melhor, tem. No dia seguinte, elenco e diretoria foram jantar na Cantina Esplanada. Cada jogador, feliz da vida, botou cinquenta cruzeiros no bolso. 





Um comentário:

  1. Não teremos Bloteria da Champions League esta semana ?

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Comentários