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| VOLTA OLÍMPICA NA ILHA |
O
América em 1967 era um clube proustiano, em busca do tempo
perdido. O mundo se contorcia na guerra entre árabes e israelenses,
Cuba exportava a sua revolução pelo planeta, a China se desentendia
com a União Soviética e o rock prosseguia seu destino de
transformação dos bons costumes. Nomes como Che Guevara, John
Lennon, Mick Jagger, Moshe Dayan, Kissinger, Hendrix e Roman Polanski
eram a bola da vez.
1967
foi o ano do amor. 1968, o ano da ruptura. 1969 foi a vitória dos
conservadores. Recife seguia perplexa entre a explosão de bombas no
aeroporto dos Guararapes no ano anterior e o ataque do governo e dos
religiosos ao controle de natalidade. Médicos entravam na dança e
também cantavam que o DIU (dispositivo intrauterino) era instrumento
do diabo. Segundo muita gente, o Brasil era imenso, rico e
subpovoado. Então, barrigas e futebol pra que te quero!
No
dia 4 de junho - EUA em polvorosa - na Ilha do Retiro o América entrou no gramado sonhando
em fazer um bom papel. Favoritos no Torneio Início eram o Náutico,
tetracampeão da competição, e o Sport do recém contratado técnico
Rubem Minelli. O restante deveria fazer figuração. Mas, assim de
mansinho, o clube da estrada do Arraial posicionou seus controles
para o coração do sol pinkfloydiano.
Enquanto
a Jovem Guarda emocionava as multidões, o América aproveitou para
ganhar o título de melhor desfile, trazendo diante do seu pavilhão
uma bela 'periquitinha'. Primeiro prêmio no bolso, na primeira
peleja da tarde, o América escalava Ronaldo; Valdeci, Brito, Genival
e Necão; Inaldo e Dílson, Babá, Macrino, Jairo e Déo. Um time que
empatou na estréia diante do Central por 0 a 0, triunfando nas
penalidades máximas: Brito sapecou os cinco chutes nas redes de Dida
e Fernando Silva converteu apenas um.
O
Santa Cruz despachou o Ferroviário com gol de Sílvio. Na sequencia,
foi a próxima vítima esmeraldina. Mesmo com fortíssimo meio-campo
composto por Luciano Veloso e Terto, o tricolor assistiu o atacante
Jairo explodindo as redes de Lula Vasques, confirmando sua chegada na
final sem a necessidade dos pênaltis.
Na
outra semifinal, o poderoso Náutico caía nas cobranças de tiros
diretos contra o Sport. Os rubro-negros, dentro de casa, viviam um
momento de rara felicidade nos anos 60 – a vitória sobre o
Náutico.
O
Sport já bebia o chopp da conquista quando o América segurou o
empate no tempo normal sem abertura de contagem, marcando um gol
histórico pelos os pés de Macrino, na prorrogação de vinte
minutos. Minelli levou as mãos ao rosto desesperado - Minelli que
ainda era um guri frente ao técnico argentino Dante Bianchi, uma
lenda do futebol pernambucano.
Nas
arquibancadas a festa era verde e branca, cerca de quinhentos
torcedores faziam pouco da noite de domingo. Porque ser campeão é
bom. Ser campeão na Ilha do Retiro nas barbas do Leão? Não tem
preço...
Ou
melhor, tem. No dia seguinte, elenco e diretoria foram jantar na
Cantina Esplanada. Cada jogador, feliz da vida, botou cinquenta
cruzeiros no bolso.

Não teremos Bloteria da Champions League esta semana ?
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