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Por ROBERTO VIEIRA
Hoje a conversa vai parecer enfadonha.
Mas vale a pena. Ou o teclado do computador.
Porque o futebol é na verdade um jogo de xadrez.
O jogo do último sábado foi uma pequena lição de futebol. De xadrez.
Uma aula.
Pra quem imagina que os jogadores ganham sozinhos uma partida, empate.
Claro que 14 mil alvirrubros preferem chamar o técnico Roberto Fernandes de 'burro'.
Porém, houve mesmo a tal 'burrice' de Roberto Fernandes?
O Náutico entrou no sistema 4-4-2. Um sistema inaugurado na década de 60 para melhor defender.
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Hoje em dia, o 4-4-2 é considerado um esquema ofensivo.
Mas tudo depende da disposição dos jogadores em campo.
Roberto Fernandes liberava Ruy e Alessandro para o ataque. Ruy atacava com cuidado.
Havia Athirson.
Hamilton e Derlei se revezavam na cobertura das laterais.
Derlei fazia uma partida soberba. Incansável.
Com isso aparecia o futebol de André Oliveira. Que sabe de bola e deixou Felipe e Clodoaldo duas vezes na cara do gol.
O esquema funcionou a contento pela marcação dos atacantes alvirrubros.
Atacantes que marcavam a saída de bola da Lusa.
O Timbu teve cinco oportunidades de gol. Poderia ter liquidado a partida.
Mas ficou no 1 x 0.
E a trave salvou um empate da Portuguesa no último segundo.
Em tempo: A arbitragem do primeiro tempo foi calamitosa. O pau comia solto.
Então no segundo tempo veio a opção pelo 3-5-2. Uma invenção da Dinamáquina em 1984.
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(Será que alguém aqui vai chamar a Dinamarca de retranqueira?)
Entra Adriano, Vagner cai como líbero. Os alas podem atacar a vontade.
Teoricamente é um esquema que pode se revelar bastante ofensivo.
Não é uma questão de 'burrice', meus amigos. Não é sequer uma opção defensiva.
Mesmo com a saída de um atacante: Clodoaldo.
Embora o pseudo-avanço de William tenha provocado um 3-6-1 como variável.
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3-6-1 que paradoxalmente deveria congestionar o meio de campo.
Mas o que se via eram camisas brancas sem marcação pelos Aflitos.
Porque sempre haverá um problema: Todo esquema depende de entrosamento.
Depende também das mudanças efetuadas pelo adversário.
Ou xeque-mate.
O que se viu foi Adriano perdidinho em campo. Everaldo no mano a mano com Jonas e Edno.
Nas laterais ninguém sabia o que fazer. Virou terra de ninguém.
A Portuguesa triangulava, virava o jogo e lá estava o rombo na defesa do Náutico.
Uma, duas, dez vezes.
A coisa foi tão nítida que com 1' do segundo tempo Eduardo já fazia milagre em cabeçada a queima-roupa.
Hamilton corria pra cobrir a lateral, a Lusa tocava no meio. Ruy não podia atacar.
Alessandro, muito menos.
Porque a bola não chegava em ninguém no meio de campo.
André cansou. William estava marcado a ferro e fogo. Felipe sozinho na frente.
A defesa rebatia e a bola caia nos pés do adversário.
A vantagem de ter 5 jogadores na meia cancha sequer existiu.
Minha gente, vou contar uma coisa:
Foi empate, mas a gente podia ter levado de 6!
Com cinco minutos do segundo tempo era pra ter mudado tudo. Até o massagista alvirrubro.
O Athirson desfilava só em campo.
Só é possível descrever tudo isso assistindo o jogo de cima.
Pela televisão não dá.
(Vocês acham que a Hungria meteu 6 na Inglaterra em 1953 apenas com técnica?)
Devo dizer que o time do primeiro tempo é forte.
André foi uma grata surpresa. Derlei, uma confirmação.
Não sei como será a partida contra o Internacional.
Pois a meu ver tudo depende do estado mental dos jogadores e do técnico Roberto Fernandes.
Que pode ser tudo, menos burro e incompetente.
Com garra e estratégia tudo é possível nesse campeonato.
Mas se é necessário surpreender o inimigo, também é necessário observação.
Prudência nas mexidas.
Aprendizado com os próprios equívocos.
Ou então contratem o filho do Morten Olsen.
Líbero e gênio da seleção dinamarquesa da década de 80.
E tragam também o Larsen, o Elkjaer, o Laudrup...
Afinal, as cores das duas equipes são as mesmas!
PS: Pra usar estas variações táticas é necessário tempo. Muito tempo. Muito treino. A tática é uma dos elementos mais belos e desconhecidos do futebol. Para aprecia-la, trocamos a televisão pelos estádios. Como trocamos os livros pelos museus. Para melhor compreender os Portinaris da vida...
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