
Por LUCÍDIO JOSÉ DE OLIVEIRA, MDM
O bicampeonato, o primeiro da história do Náutico, conquistado no ano do cinquentenário do clube, enchia de júbilo e justo orgulho a família alvirrubra. Não era sonhar demais almejar o tri. O time bicampeão conservava a mesma base que fora utilizada no primeiro ano. Bastava agora tão-somente reforçar a equipe para fazer dela um forte esquadrão. O Náutico, quando foi dada a largada, estava pronto para o grande salto.
As contratações na pré-temporada foram efetuadas a capricho. Manuelzinho (ex-Sport, uma lenda do futebol pernambucano), Irani (ex-Bangu, vice-campeão carioca do ano anterior), Marcos (do florescente futebol do interior paulista), Ivson (revelação do Fluminense, artilheiro dos aspirantes no Rio) e Wilton (alagoano que fora um sucesso no América em temporada passada) vieram se juntar aos bicampeões Vicente, Caiçara, Lula, Ivanildo, Gilberto, Jaminho, Fernandinho, Djalma, Hélio Mota e Zeca. Por trás de toda essa gente, o bicampeão Palmeira (no início da carreira, bicampeão pelo Santa Cruz; seria na próxima década, outra vez bicampeão, pelo Sport). E acima de todos eles, como santo protetor, o incomparável padroeiro Eládio de Barros Carvalho, o dono do sonho de fazer do Náutico um time grande e respeitado.
Tudo muito bem pensado e planejado. Como um rolo compressor, o poderoso esquadrão alvirrubro, armado para a conquista do seu primeiro tricampeonato, foi derrubando um a um os adversários que iam surgindo à sua frente, até a última partida, contra o Sport, dia 29 de março do ano seguinte, na Ilha do Retiro.
Quando o carioca Carlos de Oliveira Monteiro, o mesmo da final do ano anterior, ordenou o início do jogo, despedida do campeonato, o Náutico estava assim perfilado: Vicente, Caiçara e Lula; Gilberto, Irani e Jaminho; Hélio Mota, Ivanildo, Ivson, Marcos e Wilton.
Notava-se a ausência de Manuelzinho, o goleiro titular. Vicente, que se encontrava a postos, jogara poucas vezes no correr do certame. Quiseram o destino e uma contusão de Manuelzinho que o grande Vicente estivesse presente na última partida – um prêmio às suas magníficas performance com a camisa alvirrubra em tantos anos.
O time foi muito pouco mexido pelo treinador. A zaga, Caiçara e Lula, bem como o capitão Ivanildo, disputaram todas as partidas. Poucos jogadores foram utilizados. Eloi e Alheiros, os únicos reservas da defesa que tiveram a oportunidade de jogar. No ataque, Djalma era a opção para substituir Ivanildo ou Ivson. Ivanildo, por seu lado, deixava vez ou outra a ponta-de-lança e era recuado para a linha-média, sempre que havia necessidade de substituir alguém nesse setor.
Uma novidade de ordem tática: no eixo da linha média a presença de Irani, um centro-médio sóbrio, jogando bem recuado. Isso permitia mais liberdade a Gilberto, agora mais solto como volante. Irani se posicionava entre os homens da última linha, entre o central Lula e o lateral-esquerdo Jaminho. A figura do quarto-zagueiro estava surgindo nos gramados brasileiros. Fernandinho, enquanto permitiu a saúde, atuava deslocado como ponta direita. No seu lugar, quando teve que se afastar de vez, passou a jogar o motorzinho Hélio Mota, um volkswagem em meio a possantes ferraris, a mais veloz comandada pelo piloto Ivson de Freitas. Zeca e Wilton se revezavam na extrema esquerda, e não havia perda de qualidade com a troca. Marcos completava a linha dianteira. No comando técnico, a figura carismática de Palmeira.
A vitória em cima do Sport foi o coroamento de uma estupenda campanha. O time rubro-negro já era carta fora do baralho. Uma eventual vitória do Sport interessava apenas ao Santa Cruz, porque lhe abria a perspectiva de ainda almejar o título do returno, provocando uma melhor de três. O Sport não passara do 4º lugar, ao lado do Auto-Sport, atrás do América, o vice, e do Santa. Para a torcida rubro-negra, o que valia mesmo era quebrar a invencibilidade alvirrubra. Afinal, o Sport já havia se laureado campeão invicto algumas vezes. O Náutico, nunca.
Mas o Náutico venceu o jogo da despedida. Desprezou, inclusive, a vantagem do empate. Venceu bem, com sobra, um placar de bom tamanho: 2x0. Gols de Ivson e Marcos. Um aos 11 minutos de jogo, o outro no tempo complementar, aos 12. O primeiro na barra do placar, o gol de Ivson, como sempre um chute rasteiro, queimando a grama e tirando tinta do poste lateral direito do gringo Peter, goleiro rubro-negro. Peter era de nacionalidade tcheca. O outro gol, o de Marcos, no lado onde fica a sede rubro-negra, como sempre um chute bem colocado, de fora da área. O compridão Marcos Gaiola, lento e de futebol cadenciado, não passava dalí. Seus chutes, certeiros, eram sempre deferidos de longe
E quando Carlos de Oliveira Monteiro, o popular Tijolo, mão erguida apontando para o centro, trilou o apito dando os trâmites por findos, o Náutico era outra vez, pelo terceiro ano consecutivo, campeão da cidade. Tricampeão. Igualzinho ao Sport e ao Santa Cruz. Também campeão invicto. Assim como já havia sido no passado o Sport e também o Santa Cruz. O Náutico não tinha mais que render homenagem a ninguém. Nem mesmo ao América, dono de seis campeonatos. O Clube Náutico Capibaribe, a partir de 1952, também contabilizava a seu favor seis títulos de campeão pernambucano. Graças a Eládio, o dono do sonho, a Palmeira e a seus destemidos comandados. Os vencedores do histórico jogo de 29 de março de 1953.
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