27 de abr. de 2021



 


Roberto Vieira desde cedo descobriu suas duas grandes vocações: jogaria no Santinha e, depois, encerrada a carreira, se dedicaria à literatura. Assim foi, apesar de seus pais insistirem com a ideia, totalmente sem sentido, de que ele deveria fazer uma faculdade, e de Oftalmologia, ainda por cima!

Os pais de Roberto eram pessoas de visão, mas precisavam, urgentemente, usar óculos.

Ainda muito menino ele procurou a escolinha do Santa Cruz. Logo revelou rara habilidade para fazer gols e, precocemente, aos 14 anos, virou manchete no Diário do Commercio, ao marcar os três da decisão do Campeonato Pernambucano em pleno Estádio dos Aflitos, contra os donos da casa, clube cujo nome, por idiossincrasia, se recusava a citar. No máximo dizia, com desdém: os timbus.

Daí para frente a carreira de Roberto, também chamado de Roberto Explosão, decolou. Aos 18 já comandava o time principal do Santinha onde, praticamente sozinho, como se fosse o Mané Garrincha da Copa do Mundo de 1962, ou Diego Maradona em 1986, ou, ainda, Romário, em 1994, levou o Tricolor ao título brasileiro. E como artilheiro do Brasileirão. A Seleção Brasileira foi consequência natural.

Seus pais, enfim, estavam convencidos do acerto do filho único, a quem fizeram bem em não contrariar e a quem viam brilhar à distância, de binóculos. Filhos assim, você sabe, não sabem conviver com frustrações, porque raramente são contrariados.

Ao voltar para o Recife campeão mundial, ao lado de Tostão, a multidão na praia de Boa Viagem reuniu mais populares que a recepção a Miguel Arraes na volta do exílio. Não, Tostão, mineiro, não chegou com ele no aeroporto dos Guararapes, também tomado por milhares de pessoas. 

Tostão apenas havia se transformado em seu melhor companheiro no ataque brasileiro, e, também, em seu melhor amigo. Passava horas contando para Roberto Explosão como o oftalmologista Roberto Abdalla Moura havia, cirurgicamente, permitido que disputasse aquela Copa do Mundo na Venezuela.

Explosão sabia tanto sobre Houston, onde não tínhamos um problema, mas a solução, que a cidade americana passou a ser muito mais que a sede da NASA ou do hospital onde Tostão foi operado.

Ao voltar ao Brasil, disputado por todos os clubes grandes do país, e pelo mundo afora, Roberto Explosão decidiu atender ao coração e jogar no clube que acompanhava à distância, reino de Sócrates, com quem também formou dupla fabulosa. E foi ao fazer o gol do título do pentacampeonato mundial do Corinthians, em passe genial do Doutor, como os de Tostão, que a chuteira do zagueiro do Barcelona atingiu o joelho esquerdo de Explosão, como dinamite.

Ao sair de campo no lotado santuário de Wembley, ele sabia que nunca mais jogaria futebol. Recuperado depois de três cirurgias, abraçou a literatura.

Não apenas por ser xará, mas, principalmente, como homenagem aos seus pais e aos médicos, Roberto Vieira, lançou a biografia de Roberto Abdalla Moura. Vendeu a olhos vistos, com traduções para o mundo inteiro, o Mundão do Arruda, inclusive.

Vieira nunca mais parou de escrever, um livro melhor que o outro, às vezes até como se fossem sermões, como quando pontificou: 

"O livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive".

Roberto Vieira vive de entreter.

Algo que, aqui, mais uma vez, você poderá ver.



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