ROBERTO
VIEIRA
A
TABELA DE SNELLEM utilizada para avaliar a função visual nos consultórios foi
inventada em... 1863!
Antes era apenas a
CATARATA, opacidade do cristalino, geralmente decorrente do envelhecimento –
existem as cataratas congênitas, traumáticas, etiogênicas, secundárias, mas isso
é outro assunto. Atualmente, tudo isso começa a mudar, devido ao avanço da
ciência e ao aspecto lógico da diminuição da acuidade visual com a idade.
Difícil falar que apenas a catarata interfere com a visão, quando sabemos faz
tempo que existem outros vilões nessa novela.
Então, quando alguém
surgiu com o pomposo nome de Síndrome da Disfunção Lenticular (DLS em inglês),
não há porque não importa-lo para o mundo da CATARATA. O termo é aplicado nos
casos de Cirurgia Refrativa, porém mais e mais a cirurgia de CATARATA se torna
uma cirurgia refrativa. Não basta restaurar a visão do paciente, devemos restaurar
a melhor visão possível para cada paciente – o que implica muitas vezes numa
visão melhor daquela que o paciente teve na juventude, pois podemos corrigir o astigmatismo/miopia/hipermetropia
que o paciente tinha no passado, juntamente com a cirurgia de CATARATA.
E o que seria a DLS?
DLS é um grupo de
alterações provenientes da idade que acomete os olhos e interfere com a visão.
Estas alterações devem ser levadas em conta na indicação cirúrgica.
E quais são elas?
Bem, primeiro temos a
perda de ACOMODAÇÃO. Os olhos após os 40 anos apresentam diferença crescente
entre o grau necessário para ver de perto e de longe. Tudo devido ao cansaço da
musculatura ocular – isso em termos simplificados.
Depois tempos a
CATARATA propriamente dita. CATARATA que traz consigo diminuição da qualidade
de visão mesmo em seus estágios iniciais – ABERRAÇÕES de alta ordem,
tecnicamente falando.
Por último, podemos
encontrar perda da qualidade visual na RETINA, secundária a opacidade do
cristalino. Uma CATARATA que no passado não seria operada, atualmente passa a
ter indicação cirúrgica por dois motivos:
- Perda da qualidade de
visão em um mundo onde a exigência visual se multiplicou rapidamente nos
últimos anos
- Possibilidade de um
resultado extraordinário no pós-operatório que não pode ser garantido com
CATARATAS mais antigas, de maior densidade, onde os benefícios da correção
visual com procedimentos na córnea e implante de lentes intraoculares se tornam
mais complexos – eles que já são de alta complexidade mesmo com CATARATAS em
estágio inicial.
Durante muitos anos, a
OFTALMOLOGIA se guiou por um adágio cirúrgico antigo: O ÓTIMO É INIMIGO DO BOM!
Sinalizando que a busca
da perfeição muitas vezes resultava em péssimos resultados cirúrgicos. Era uma
verdade no século XX, e quem operou naquela época sabe disso. Uma verdade que
era muito importante para a pessoa mais importante no ato cirúrgico: O PACIENTE.
Mas no século XXI, o
velho ditado perdeu sua força. Chega de utilizar parâmetros de uma tabela
inventada em 1863 – era muito legal, mas ficou pra trás com salsaparrilha e
espartilhos. Em um tempo de conquistas tecnológicas espetaculares, quando o
sonho de chegar em Marte vira realidade, a palavra de ordem para os
oftalmologistas jovens que chegam nos blocos cirúrgicos deve ser outra:
O ÓTIMO É INIMIGO DO
EXCELENTE!
Talvez uma verdade que
valha para as CATARATAS e para a nossa própria vida...
Baseado no excelente artigo:
Waring GO IV, Rocha KM, Durrie DS, Thompson VM.
Use
of dysfunctional lens syndrome grading to guide decision making in the surgical
correction of presbyopia. Paper presented
at: ASCRS/ASOA Symposium & Congress; May 10, 2016; New Orleans, LA.
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