2 de mai. de 2016



Por Ulisses Braga Neto

— Como era na época em que o Náutico era time grande, Vovô?

— Ah, era uma beleza, Dudu. Pernambuco tinha três times grandes, já pensou? Coisa que só Rio e São Paulo têm no Brasil. Foi a época de ouro do futebol pernambucano.

— Eu li na SpaceNet que o Náutico chegou a conquistar o antigo “Campeonato Pernambucano” seis vezes seguidas! Como foi isso!?

— Eu não vi, mas meu Pai (seu Bisavô) e outros torcedores antigos viram, e juravam de pés juntos que foi verdade. Eu era da segunda geração de fiéis, os que “acreditavam sem ter visto.” Assim como os Cristãos que ouviram a Boa Nova dos Apóstolos e saíram espalhando pelo mundo. Mas a Fé no Hexa era forte, nos iluminava quando o tempo era escuro. O que foi se sucedendo cada vez mais frequentemente…

— Eu li que até estádio próprio o Náutico tinha, e ficava na Superquadra dos Aflitos, a região mais cara do Recife, não é verdade?

— Naquela época se chamava “Bairro dos Aflitos.” Mas sempre foi um dos lugares mais nobres da cidade. Diziam que o estádio do Náutico, onde hoje existe o MegaShopping das Américas, era uma mina de ouro. Mas no final acabou sendo tomado pela Justiça para quitar as dívidas do clube.

— E como foi mesmo que um clube desse tamanho se acabou, de repente?

— Dudu, não foi de repente. Isso não. Muitos dizem que começou a se acabar durante o Primeiro Jejum de títulos, entre 1975 e 1984, quando o Náutico foi “roubado” em vários anos, como 1975, 1981 e 1983, sem que seus dirigentes demonstrassem qualquer reação. Outros dizem que o fim começou mesmo no Segundo Jejum, de 1990 a 2001, especialmente quando o Náutico perdeu uma final ganha para o Santa Cruz em 1993. Já outros afirmam com convicção que o clube se acabou no dia da “Batalha dos Aflitos” em 2005 (procure aí na SpaceNet) e o longo, e definitivo, Terceiro Jejum que se seguiu. Eu acho que não. Resultados em campo podem enfraquecer um clube, mas não acabam com ele. Veja o que ocorreu com o Santa Cruz: caiu para a Série D e todos disseram que era o fim. No entanto, as lideranças se uniram, a sua torcida espantou o Brasil lotando a Arena Arruda (naquela época, ainda era o velho estádio do Arruda) em jogos de Série C e D, e o clube renasceu. Os Tricolores não aceitaram o fim do clube. E hoje é o maior clube de futebol em Pernambuco e do Nordeste, com o maior número de títulos nacionais e internacionais.

— Então o que foi que acabou com o Náutico, Vô?

— Foi justamente o contrario do que ocorreu com o Santa Cruz, Dudu. Incompetência e divisão das lideranças, e a torcida acomodada, resignada. Enfim, falta de amor ao clube. Agora, chega de conversa e vá terminar o dever de casa, senão vovô não leva para a Arena Arruda hoje para assistir à Final da Libertadores. Estou falando sério, heim?


* Essa crônica altamente especulativa (e pretensiosa) almeja apenas servir como um alerta…


6 comentários:

  1. Antes de tudo, que bom voltar a ler o meu caro Ulisses.
    O destino tende a ser esse sem erro e o mais importante são as causas. Ulisses as pontuam de forma precisa. Só discordo da "torcida resignada". Para mim isso é causa.
    Unificar liderenças é utópico. Não se unifica tantos egos. Precisamos de um líder respeitado e com força/capacidade pra uma virada de rumo.

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  2. Harold, obrigado pelas palavras. Rompi o silêncio do auto-exílio devido à urgência da situação alvirrubra. Muito me envaidece que você tenha aprovado a crônica, você que viu o Hexa, e é portanto um Apóstolo Alvirrubro, assim como Lucídio, Edgar, Carlos Celso e tantos outros.

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  3. Eu também testemunhei o hexa e a gloriosa volta de Dom Ulisses com um texto tão oportuno. VIVA!

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    1. Salve amigo JC. Claro, voce também é um Apóstolo do CNC. Obrigado e um abraço.

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  4. Antonio (temeroso...)3 de maio de 2016 às 12:12


    Caros amigos,

    leio este blog sempre... há muitos e muitos anos...

    lá atrás, e já se vão acho que mais 12 anos, escrevi um artigo intitulado Pernambuco F.C.

    o querido poeta até o publicou... nele escrevi que em Pernambuco não havia espaço para 3 times grandes... que o estado estava a ser ultrapassado, no futebol, até por Santa Catarina, etc.

    naquela época pensei no fim do Santa Cruz, depois, bem depois... do Náutico... a não ser que houvesse uma fusão dos 3 times (sei, sei... isso no futebol amador, que é praticado aqui por estas bandas, é impossível...)

    o fim não se dá necessariamente pelo fechamento das portas... se dá de uma forma bem mais dolorida... aos pouquinhos... com muitas saudades... muita tristeza...

    ai, ai, ai... é com muita dor que leio este artigo do amigo Ulisses...

    há sim, AINDA, uma esperança... só que há de ser PRA JÁ...

    A UNIÃO DE TODAS AS FORÇAS POLÍTICAS DO CLUBE...

    caso contrário... 3ª divisão, 4ª... e, no caso do querido Nàutico, diferentemente do Santa Cruz... não enxergo forças para uma reviravolta...

    fico, mesmo à distância, numa enorme torcida...

    1 abraço a todos.

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  5. Ulisses, prazer lhe ver de volta. Pena que, como sempre, com um texto tão acertado.

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Comentários