POR ROBERTO VIEIRA
Apesar dos cabelos brancos, não sou da geração de
Carlitos. A descoberta do Vagabundo se fez muito tempo depois, nas telas de
televisão, extasiado com a graça e o refinamento de um poeta e filósofo da
sétima arte. Chaplin nunca curtiu muito a ideia do cinema falado, mas esse
aparente desprezo pela modernidade tem um segredo: Carlitos não precisava
falar.
E em Carlitos encontramos a quintessência do homem
perante o mundo gigantesco, febril e fabril que constrói fortunas e destrói
coisas belas. A miséria urbana se abatendo sobre a maior parte da humanidade
que não usa carruagens e mansões de luxo.
Carlitos é o ser humano em estado bruto, parodiando
falsamente Rousseau. Em Carlitos, o homem é um selvagem armado apenas da inteligência
e coração. O ser humano é o nada transfigurado em tudo na batalha contra a
realidade opressiva e, teoricamente, sempre vencedora.
Em Carlitos, nossos melhores e mais belos
sentimentos ganham luz. Somos o miserável que se apaixona pela florista cega,
somos o mendigo erguendo a bandeira da liberdade e igualdade entre os homens,
somos o sem teto que abriga a criança e a cria como se fosse seu único filho.
Somos o antigo soldado que desafia o nazismo e canta
seu amor pela liberdade.
Chaplin também enfrentou o mundo em vida. Lutou com
seu talento e magia contra as luzes da ribalta. Artista mais genial do século
XX, ele ousou ser judeu sem ser para ficar do lado de seu meio-irmão.
Milionário, estendeu seu talento para os que não tinham comida na recessão.
Porque Carlitos e Chaplin estavam muito além do que
é direita e esquerda.
Porque Carlitos e Chaplin eram apenas e tão somente
seres humanos. Com a dor e a lágrima da existência tatuadas em seu coração.
Como também o são todos os homens. De direita e de
esquerda.
PS: E ele ainda era um grande compositor..
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