Por
ROBERTO VIEIRA
A República nasceu no Brasil quase por acaso, mas
como a Monarquia estava velha e gagá, viramos República. Nos primeiros anos
éramos analfabetos de República e suspirávamos pelos barões e cargos toma lá dá
cá. Demorou pra ficha cair. Os votos que foram censitários se tornaram de
cabresto.
Pois é, o cabresto é filho da República.
São Paulo se revoltou. Os Dezoito do Forte se
rebelaram. Tascaram um Estado de Sítio na gente até a Confeitaria Glória. Uma
bala e o Brasil conheceu Getúlio derrotrado nas eleições e vitorioso na batalha.
Getúlio liberou o voto das mulheres e sentou no
Catete.
Gostou tanto do Catete que quase não sai de lá.
No meio do caminho? Getúlio prendeu, torturou,
queimou bandeiras dos estados e proibiu os hinos dos estados também. Assoviar ‘Pernambuco
Imortal’ dava cana – arrancavam suas unhas com alicate.
Fim da II Guerra e tiraram o retrato do velhinho. Só
que botaram o retrato de Dutra que era mais a direita que Mussolini. Dutra
ficou viúvo e perdeu o gosto pelo Poder. Então... voltou Getúlio, velho e
cercado de capangas e filhos espertalhões. Os escândalos foram tantos e tão
sangrentos que Getúlio ia cair, mas na hora H, no dia do aniversário do seu
filho caçula que havia morrido anos antes, Getúlio meteu uma bala do Colt no
coração.
E a República Novíssima ficou velha de novo.
Virou República dos Js.
Jk, Jânio e Jango.
JK e Jango herdeiros do getulismo. Um getulismo que
se fez de esquerda para sobreviver no PTB e no PCB. PCB proibido e atuante no
palanque.
Veio o Golpe de 64. A esquerda foi destruída quase
totalmente, sobrevivendo na década seguinte num movimento do ABC paulista após
a mortandade do PCB pelas mãos de Geisel.
Trouxeram Brizola e Arraes de volta. A juventude
libertária queria liberdade demais. Nada melhor que a Velha Guarda pra
controlar a Jovem Guarda.
As ‘Indiretas Já’ nos deram Tancredo. Tancredo que
só seria eleito indiretamente. Tancredo diverticuliticamente nos legou Sarney. Sarney
que não poderia assumir pois ainda não era vice. Mas como a opção era Ulisses,
botaram Sarney. Sarney e Ulisses, quem diria, nos deram um golpe na
Constituinte de 88. Enrolaram o povo no cruzado e ganharam as eleições. Depois
liberaram a preçalhada nos postos de gasolina.
O cabra foi dormir em 68 traído pela direita.
E acordou em 88 traído pela esquerda.
Um ano depois veio o três em um de Lula contra
Collor na Nova República.
Deixa eu contar... uma, duas, três, 1889, 1930, 34,
37, 45, 64, 85, impeachment de Collor.
Itamar tomou conta do sambódromo. O ex-marxista FHC
tomou conta do Real. FHC que não quis largar o osso em 98/99. Pagou uma grana
pela reeleição.
Lula e o PT seguiam sendo contra. Contra as Diretas,
contra o Real, contra a CPMF, contra o corte de cabelo.
Até que José Dirceu apresentou seu alfaiate ao Lula.
Lulinha Paz e Amor chegou. E os deserdados de 1964
chegaram ao poder. O Brasil, enfim, iria sair do atoleiro. Iria haver honestidade,
clareza de propósitos, dinheiro para os miseráveis do Planeta Brasil.
Lula gamou no Romaneé-Conti.
Lula gamou no charuto Havana.
Lula enxergou numa antiga militante estudantil búlgara
seu São Pedro em Roma.
E pouco a pouco, lentamente, após anos de
entretenimento. Após milhares de discursos contra a pobreza. Após mesmerizarem
seu público com truques baratos de bolsas família. O Brasil descobriu que o
moço de Garanhuns chama mais palavrões que a Dercy Gonçalves. Com a diferença
que a Dercy ralou como livro aberto para chegar na ribalta.
O Brasil assistiu perplexo ao CARA se transformar no
cara. Um político que poderia ter comprado um triples e um sítio para a família,
preferindo continuar vivendo às custas dos amigos de aluguel.
16 de março de 2016.
A República ficou velha mais uma vez.
Só que dessa vez, o Brasil não deseja mais getúlios,
nem castelos, nem sarneys.
O Brasil que sonha em trabalhar e estudar.
O Brasil que sonha com uma Pátria honesta e moderna.
Com a refundação da República com ‘R’ maiúsculo.
Esse Brasil quer apenas que o nobre Lula tenha o
mesmo destino de Washington Luís.
Com a diferença que Washington Luís tinha inúmeros
defeitos.
Porém, respeitava o vernáculo.
Washington que não fazia frases de efeito macho-populistas
com o ani foramen de ninguém...
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