23 de fev. de 2015




Por ROBERTO VIEIRA


... E lá passei o fim de semana reviajando em MEMÓRIAS DO CÁRCERE.

Graciliano é a perfeição recortada ad lib.

Ele corta, corta e recorta seus textos.

Deixando apenas o absolutamente necessário.

Um dos maiores escritores universais.

Imprimindo Kafka em cada linha deste livro dos tempos de prisão.

Mas Graciliano não sai inocente de MEMÓRIAS DO CÁRCERE.

O escritor cuja honestidade beirava o irreal sai chamuscado.

Por três motivos simples.

O primeiro é que coloca o leitor como se fosse personagem kafkiano, ou sujeito de Camus.

Inocente de tudo.

Envolto em um universo do absurdo.

Quando absurdas são todas as prisões políticas.

Seja de esquerda ou direita.

Segundo: o mesmo absurdo sofrido por Graciliano seria testemunhado por Alexander Soljenitsyn.

Soljenitsyn que sofreu horrores nos cárceres soviéticos.

Basta ler UM DIA NA VIDA DE IVAN DENISOVICH.

Graciliano desconhecer o terror soviético?

Impossível.

Na sua obra ele menciona o assassinato das 'classes dominantes' se tomasse o poder.

Graciliano sabia-se comunista.

Mas como 'ainda' não era do Partido, recusava a pecha.

Terceiro?

A obra espetacular foi censurada.

Censurada pelo Partido Comunista Brasileiro.

Várias de suas passagens foram expurgadas com licença da família do autor.

Para que não denegrissem personalidades do Partido.

O livro real era tão explosivo que Graciliano mal conseguiu termina-lo.

Porém, MEMÓRIAS DO CÁRCERE não deixa de ser leitura obrigatória pra quem pensa.

Mesmo que o livro seja, no final, um cárcere para a memória do autor...






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