5 de mar. de 2013






Por ROBERTO VIEIRA


Onze dias.

Onze dias foi o tempo que vivi.

Allende estava morto e eu estava internado no Santa Maria.

Próstata.

As mulheres ficaram feias.

Os dias ficaram escuros.

Os versos ficaram rudes como as pedras da Cordilheira.

Parral.

Eu sonhava com a Parral de minha infância

meu pai José e os trens.

Tudo tão simples

apenas poemas de amor e nenhuma canção desesperada.

Eu apenas amava.

Não sabia o que era desamor.

Pinochet.

Pinochet e seus amigos imaginam que sou prisioneiro.

Como imaginam todos os ditadores.

Poetas.

Poetas não se prendem.

Poetas não se pode prender.

Poetas sonham e quem sonha e ama e tem esperança

nunca será prisioneiro de ninguém.

Araya tem medo.

Diz que virão me levar a vida.

Diz que o Chile é apenas um detalhe.

Um condor desafiando a gravidade latino americana.

Mas podem me levar as pernas, os braços,

os olhos e a fé marxista.

O único crime que ouso confessar

crime mais odioso para a humanidade de véu e chibata

luto e cáqui,

é confessar que vivi...



* Reaberto no Chile, processo que analisa a possibilidade de assassinato do poeta Pablo Neruda...  



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