Por ROBERTO VIEIRA
Onze dias.
Onze dias foi o tempo que vivi.
Allende estava morto e eu estava internado no Santa Maria.
Próstata.
As mulheres ficaram feias.
Os dias ficaram escuros.
Os versos ficaram rudes como as pedras da Cordilheira.
Parral.
Eu sonhava com a Parral de minha infância
meu pai José e os trens.
Tudo tão simples
apenas poemas de amor e nenhuma canção desesperada.
Eu apenas amava.
Não sabia o que era desamor.
Pinochet.
Pinochet e seus amigos imaginam que sou prisioneiro.
Como imaginam todos os ditadores.
Poetas.
Poetas não se prendem.
Poetas não se pode prender.
Poetas sonham e quem sonha e ama e tem esperança
nunca será prisioneiro de ninguém.
Araya tem medo.
Diz que virão me levar a vida.
Diz que o Chile é apenas um detalhe.
Um condor desafiando a gravidade latino americana.
Mas podem me levar as pernas, os braços,
os olhos e a fé marxista.
O único crime que ouso confessar
crime mais odioso para a humanidade de véu e chibata
luto e cáqui,
é confessar que vivi...
* Reaberto no Chile, processo que analisa a possibilidade de assassinato do poeta Pablo Neruda...

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