21 de nov. de 2012







José Alexandre Borges sabia tudo de futebol. Sócio remido e ex-treinador das divisões de base do Clube Náutico Capibaribe, a sua participação na fuga do lateral Gena, ainda juvenil, dos Aflitos para o Botafogo-RJ, foi tema de caça às bruxas nos idos de José Porfírio e Eládio de Barros Carvalho. Tempo que passa, em 1970, Alexandre, ex-congressista da UNE no auge da ditadura brasileira, comandava o América no Torneio Início.

O Santa Cruz trazia Gilberto no gol, Luciano com Givanildo Oliveira no meio campo e Ramon e Fernando Santana no ataque. O Náutico tinha Bita. O Sport vinha de Miltão,Baixa e Altair. Alexandre Borges passou noites em claro imaginando como poderia surpreender no certame. Quem sabe apostando nos milagres de Jagunço, antigo goleiro e paredão do Íbis? Ou então, confiando na habilidade de Evaldo?

Ilha do Retiro lotada. O primeiro jogo disputado sob sol de rachar o juízo. Diante do América, o valoroso Central de Félix, Borges, Fernando Silva e Brito. Alexandre Borges arma sua equipe com Jagunço; Teco, Fernando, Ivan e Jaminho; Batista e Marivaldo; Manuelzinho, Edson, Evaldo e Paulinho.

A ordem é atacar. Em vinte minutos alucinantes, o América marca dois gols nas redes de Félix – nada a ver com Félix Emerenciano, titular da Copa de 70 – através do centroavante Evaldo. Dois gols que botam fogo na torcida esmeraldina nas arquibancadas.

Pra ajudar, o Náutico perde por 1 a 0 para o Santo Amaro e o Sport é desclassificado nos pênaltis diante do Ferroviário. Pouco depois, a grande surpresa da tarde acontece no jogo Íbis x Santa Cruz. O arqueiro Lino segura tudo e o tricolor do técnico Duque vai pra casa mais cedo. O craque Luciano desperdiça duas penalidades máximas, já o simpático Ugiéte balança as redes do arqueiro Gilberto quatro vezes.

O América surge como favorito do torneio após a eliminação de Náutico, Sport e Santa Cruz. O técnico Alexandre Borges realiza duas modificações no segundo jogo: saca Jaminho e coloca Duda na lateral-esquerda, tira Paulinho e lança Geraldo na ponta esquerda. E é justamente Geraldo quem define o placar de 1 a 0 diante do Santo Amaro - o arqueiro Nunes do Vovozinhas assistindo o couro beijando discretamente o barbante.

Como o Pássaro Preto desclassifica o Ferroviário nos pênaltis, a final colocará frente a frente esmeraldinos e ibienses na Ilha do Retiro. O América buscando seu décimo - primeiro Torneio Início. O Íbis em busca de reconquistar o certame ganho em 1948 e 1950.

Alexandre Borges gostaria de manter a mesma equipe que eliminara o Santo Amaro, mas Batista talvez não acompanhasse o ritmo de Júlio e Admilsson, meio campistas do Íbis. Então, na vaga de Batista, entra Ideltônio. 
 
Toque de classe, a arbitragem da final fica por conta do juiz Manoel Amaro, o mesmo do milésimo gol de Pelé em 1969, no Maracanã.

Em campo, a superioridade do América é flagrante. O ‘sentido de conjunto e a boa distribuição dos jogadores em campo’, segundo jornais da época, deixaram o adversário sem ação. O goleiro Lino faz milagre em cima de milagre – o Íbis buscando nova decisão nas penalidades - porém, Osvaldo e Marinaldo decidem a final nos noventa minutos: América 2 a 0. E é Marinaldo, autor do gol do título, o craque que tem a honra de erguer o troféu de campeão do Torneio Início de 1970.

Cinquenta anos depois de ser Campeão do Norte, o América sentia pela última vez a honra de um título estadual. Dois anos depois, o futebol brasileiro perdia o talento do jovem Alexandre Borges nas curvas da estrada Recife-Maceió.





3 comentários:

  1. Mudando de assunto, já perceberam como a imprensa tá tentando inverter as coisas e querer colocar na cabeça de todos que o desespero é alvirrubro e não rubro-negro ? Inclusive o Gallo desabafou ontem em entrevista coletiva. O Blog do Torcedor nesta semana só noticiou coisa ruim da gente e do Sport só incentivo, mensagens de apoio e confiança. Por exemplo, já divulgaram a lista de pendurados do Naútico, querendo claramente condicionar a arbitragem do jogo contra o Bahia, também já fizeram matéria divulgando nosso péssimo retrospecto contra o tricolor baiano. Daí eu pergunto: Por que não fizeram o mesmo com relação o Sport ? Cadê a lista de pendurados deles ? Cadê o retrospecto deles contra o tricolor carioca ? Digo e repito, a nossa situação ainda é bastante confortável, na pior das hipoteses jogaremos a última partida em casa, jogando por um simples empate, podemos nos livrar mesmo com 2 derrotas. Perguntem ao Bahia, à Portuguesa, ao Sport, se não queriam estar na nossa situação. Aliás, vamos a uma caso mais palpável e real, perguntem ao Atlético-PR se eles estão temorosos de decidir em casa o acesso à Série A, contra o Paraná, jogando pelo empate. Será que pelos lados de Curitiba, na parte rubro-negra, existe algum clima de temor, desconfiança, duvido !

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  2. Não é novidade nenhuma este tipo de atitude por parte da imprensa pernambucana. ainda bem que temos o blog do Roberto e do JJ, apesar de perdermos domingo último ao lado do Domingo Esportivo da JC, uma ótima tribuna para a discusão do nosso futebol. quem sabe a culpa não é das mesmas empreiteiras que estão turbinando o SCR para não ver abortado o sonho de espigões, quem sabe mais duas horrendas torres gêmeas maculando a ilha do retiro.

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Comentários