Por ROBERTO VIEIRA
O Cinema do Parque anunciava Sangue e Areia com Rodolfo Valentino.
Nada mais apropriado, diria o futuro.
Era o dia 26 de julho de 1930. O Brasil ainda vivia no passado.
Recife iria testemunhar o evento que anunciou o século XX por terras de Pindorama:
O assassinato de João Pessoa.
O outubro de 1930.
Quatro balas que, para os jornais locais, foram fruto do ódio oriundo de Washington Luís.
Ou quatro balas que tiveram origem na política e no amor de João Dantas?
João Pessoa. Único governador nordestino a se insurgir contra o Poder Central no primeiro de março que elegeu Julio Prestes.
O dia do NEGO da bandeira paraibana.
17:30h. Confeitaria Vitória na Rua Nova.
Sentam-se João Pessoa, Agamenom Magalhães, ex-deputado federal e professor do Ginásio Pernambucano, Caio de Lima Cavalcanti do Diário da Manhã e o comerciante Alfredo Dias.
Chá com torradas.
Pela porta da Rua Santo Amaro entra um homem. E dispara à queima-roupa contra o Presidente da Parahyba, enquanto fala:
"Sou João Dantas!"
Agamenom agarra o braço de Dantas, mas não consegue impedir os outros três tiros.
Dantas é alvejado por uma bala pelo Sr. Antônio Fontes. Cai.
João Pessoa é levado para a Drogaria Brasil onde lhe são aplicadas injeções de adrenalina pelos médicos Caldas Bivar e Bruno Maia.
Inutilmente.
Nos dias que se seguem, João Pessoa torna-se símbolo e mártir. Nome de cidade.
João Dantas é assassinado na Casa de Detenção. Lesão artesanal.
O episódio muda o Brasil. Brasil já abalado pelo Crack da Bolsa de Nova York.
Muda também a vida de um menino de três anos que perde seu pai nas brumas da revolução.
E é levado pela mãe para se refugiar em Taperoá.
Um menino chamado Ariano Vilar Suassuna.
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