A POESIA DO PELIM - COMO LER O LIVRO DEPOIS DE FEITO

Por AYRTON PELIM, MDM            

Caminho pelas ruas com um olho no horizonte

( aquele das certezas e das utopias)

E com o outro  no passado

( que é pra não perder o futuro).

Tem dias que a gente se sente assim mesmo,

Como se a única saída decente e elegante

Fosse marcar o mais bonito gol de placa.

E com tanta saudade dos gols que já se foram

Que vem a ansiedade pelos que ainda virão.

Se assim é, com a gente,

Imaginem,

Tão perdidamente amadores,

Como será com os reis da rede estufada?

Como será com esses  grandes jogadores?

E alguém precisa contar isso tudo.

Alguém com pés de pano sobre o gramado,

Mãos de açúcar sobre a neblina do tempo

E o coração enfiado numa cabeça redonda.

Oficial, e numero 5.

De inexplicável Sinfonia.

Quem sabe, meu Deus,

Isso não venha de Lucídio, Celso e Roberto?

Ali, no meio campo das coisas eternas?

Porque se a vida tece rendas e rasgos

O tempo só faz revelar.

Em doses.

Então, sinto que preciso de um bar.

Entro e peço uma bebida.

Uma garrafa, uma birita,

Um copo, um trago longo.

“Temporariamente não tem” -

O dono me diz -

“A cachaça é outra”.

Tem um livro.

“Reis do Futebol em Pernambuco”

“Os Goleadores”.

Peço e bebo.

Uma página de cada vez.

Dose por dose.

E uma doce embriaguês

Vai tomando conta de mim.

Nas janelas desse bar

Iluminado e universal,

Cortinas de renda fina

(Como as redes do tempo)

Balançam sem parar.

E, num relance, eu percebo,

Que essa santa embriaguez

Não é curta, leve, temporal,

Mas é, sim, uma daquelas

Que parece não ter fim.

Ayrton Pelim

PS

Quanto ao livro,

Esse bicho vivo

Que já é, antes de ser,

Fica, também, muito claro

(Talvez pelo sexto sentido)

Que mesmo sem vê-lo,

Pegar, apalpar e lê-lo,

Eu sinto que já o tinha lido.

É que amanhã,

Ao folheá-lo, de fato,

Pela segunda vez,

Eu sei que vai ser assim.