26 de jan. de 2015





Por ROBERTO VIEIRA

Tive sorte.
Fui criança e meu time nunca levava gol.
Primeiro tinha um Monstrinho.
Um Monstrinho que não assustava as criancinhas, apenas os atacantes.
Tostão, Pelé e Ademir da Guia tentaram em vão.
Nada.
Aquele paredão alagoano era inexpugnável.
Soltava-se um homem do rifle lá na frente.
E o resto corria por conta dele.
Depois, trouxeram outro semideus.
Um imenso armário trajado de negro das Alterosas.
Era o ano de 1974.
Durante mais de dois meses ele não tomou um gol sequer.
Mil seiscentos e tantos minutos sem pegar a bola em suas redes.
Seu chute era impressionante.
Deixava Jorge Mendonça livre na outra grande área.
Por causa deles desisti de ser goleiro.
Eram bons demais, perfeitos demais, ídolos demais.
Por causa deles também desisti de ser atacante.
Porque as defesas deles valiam por mil gols.
A sorte foi embora.
Em menos de trinta dias perdi meus dois ídolos.
Lula e Neneca se foram pra não mais voltar.
Fazer gol agora ficou mais fácil.
Difícil mesmo é olhar pra velha camisa número um e esquecer...


Um comentário:

  1. Esse é um texto que a gente lê e fica com inveja de quem o escreveu. Perfeito. Parabéns, Roberto.
    Tive a felicidade de assistir inúmeras partidas com esses dois extraordinários goleiros.
    Na época, o tempo que Neneca ficou sem tomar gol foi recorde mundial. Não sei se já foi superado.

    ResponderExcluir

Comentários