29 de jan. de 2015




Por NEWTON MORAES            



Fui um dos responsáveis por aproximar e obter o apoio de Ivan e Salomão – ícones do Náutico - ao grupo do MTA, na eleição de 2013. Assegurei a ambos que, na nova gestão, a Base seria verdadeiramente valorizada.
Quando Ivan Brondi foi convidado para comandar a Diretoria de Base, estimulei-o a aceitar o cargo, utilizando o célebre discurso de “Agora a Base vai ter Vez e Voz”. Hoje vejo como fui ingênuo, pois o que se viu foi uma total incongruência entre o discurso de Campanha e a prática.
Apesar de todas as dificuldades financeiras, o grupo comandado por Ivan - do qual fiz parte, com muito orgulho -, buscou aperfeiçoar o que já estava consolidado, pois Claudio Peres, anterior comandante do Futebol de Base, havia realizado um excelente trabalho. Assim, procurou-se manter as comissões técnicas - já entrosadas - e realizar melhorias nas condições de treinamento, alimentação e alojamento, pois sempre acreditamos que a Base pode ser a tábua de salvação do nosso Clube.
Mas, desde o início da gestão, a Base tem sido desrespeitada pela Diretoria Executiva, conforme exposto a seguir:

1-  Já nos primeiros meses, doze atletas do basquete - que equivalem a 18 pessoas que não possuam porte físico tão avantajado - passaram a se alimentar com os garotos da Base, sem que tivesse havido a prévia anuência de Ivan. Isso perdurou até a Base ser transferida para os alojamentos de nosso Centro de Treinamento, sem que tivéssemos nenhuma compensação financeira. Ao contrário, durante a pausa por conta da Copa do Mundo, tivemos o acréscimo de vários funcionários do Futebol Profissional alimentando-se com os atletas da Base.

2-  Em junho do ano passado, Ivan Brondi viajou para os Estados Unidos para trazer um neto que estava residindo lá. Em sua ausência e sem seu conhecimento, ocorreram dois fatos desagradáveis. O primeiro foi a contratação de uma espécie de auditoria na Base, realizada por um empresário de atletas, que resultou em um relatório recheado de informações infundadas. O segundo foi a negociação - sem ter havido uma prévia discussão com a Diretoria de Base -, de uma parceria com um Clube (Decisão) para que o mesmo participasse do campeonato pernambucano da Segunda Divisão com o time de juniores do Náutico. Pior ainda, com o Náutico arcando com todos os custos e sem um mínimo de planejamento, tanto que a parceria foi desfeita porque a disputa da competição ocorria no mesmo período do campeonato pernambucano de Sub20 e da Copa do Nordeste. O diretor do Decisão confirmou que a negociação já tinha sido acertada há alguns meses, embora a Base não soubesse de nada.

3-  Premiação e acolhimento, no Futebol Profissional, de um treinador de goleiros que foi demitido pela Base por ter cometido falta grave, deixando-nos em situação de descrédito perante o grupo, em função dessa decisão equivocada da Direção Executiva do Clube.

4-  Decisão de colocar Levi no lugar de Sérgio China, sem nenhuma consulta à Diretoria de Base, que levando em consideração as questões financeiras, técnicas e de clima interno do grupo, já havia optado pelo profissional Moura, técnico do Sub17, que mostrou competência em seu trabalho e conhecia bem o plantel, por ter trabalhado com mais da metade do grupo do Sub20. Foram feitos outros remanejamentos para que o Náutico não tivesse nenhuma despesa adicional e feita a comunicação para todos, não sendo possível voltar atrás. Felizmente, após reunião de Ivan com a Diretoria Executiva, a decisão da Base foi mantida.

5-  Finalmente, agora em janeiro, aproveitando-se do fato de Ivan ter viajado para visitar sua família em São Paulo, foram demitidos todos os membros da Comissão Técnica da Base, mais uma vez sem seu conhecimento. E a Direção sequer teve a hombridade de comunicá-lo pessoalmente. No domingo passado (25/1), Sílvio Bourbon, colaborador do CT, telefonou para Aluísio Xavier, colaborador da Diretoria de Base, para comunicá-lo que Didi Duarte, coordenador técnico, e Marconi de Moura, treinador do Sub20, seriam demitidos e que Ivan já tinha sido informado. Mentira. Antes de viajar, Ivan havia tido uma reunião com Daniel Hazin, Diretor do CT, e Sílvio Bourbon, quando foi sugerido um maior estreitamento entre a Base e o CT, bem como a possibilidade de enxugamento de gastos. Não se falou em demissão, muito menos em nomes. Na terça-feira (27/1), o Diretor do Futebol Profissional Paulo Henrique Guerra ligou para Ivan Brondi - que ainda se encontra em São Paulo - para comunicá-lo que todos os membros da Comissão Técnica da Base estavam sendo demitidos. A reação de Ivan não poderia ser outra que não sua saída imediata do comando da Base.
Apesar de todas as dificuldades existentes, com permanente atraso nos salários dos atletas que são remunerados, dos membros da Comissão Técnica e dos demais funcionários - algumas vezes superior a 3 meses - e sem pagar a ajuda de custos dos atletas que não recebem remuneração, o atual plantel do Náutico possui 19 atletas oriundos do Futebol de Base. São eles:
a)    Os goleiros Jeferson e Bruno;
b)    Os laterais Joazi, David e Piauí;
c)    Os zagueiros Flávio, Diego e Danilo Quipapá (emprestado ao Vera Cruz);
d)    Os volantes João Ananias, Gustavo Henrique, Adniel e Hélder;
e)    Os meias Guilherme, Igor Neves, Jefferson Nem e Marcus Vinicius (emprestado ao Cruzeiro);
f)     Os atacantes João Paulo, Renato e Saulo.
Além desses, Messinho (atacante) e Kelvis (meia) foram liberados sem que a Base fosse ouvida e sem o treinador Moacir Júnior ter visto sequer um treino coletivo deles.
Mesmo entendendo que se está destruindo um excelente trabalho construído ao longo de mais de 4 anos, a Direção do Clube teria o direito de substituir Ivan do comando da Base, mas não da forma que fez, urdindo uma trama sórdida para forçar sua saída. Não há dúvida da armação, porque essa informação me foi passada há cerca de 3 semanas e relatada posteriormente por outras pessoas, sem que eu desse muita importância, pois não acreditava que pudessem ser capazes de ato tão vil e tramado à surdina.
Ivan formou com Salomão a dupla de meio-campo mais harmônica da história do futebol pernambucano. Atleta exemplar, foi o capitão do time durante os seis anos do Hexa, conquista nunca igualada por outro clube do futebol pernambucano.
Mas minha admiração por Ivan transcende, e muito, os campos de futebol. O cidadão Ivan Brondi é muito maior que o seu exuberante futebol. Honestíssimo, possui espírito agregador e conciliador, exercendo uma liderança natural que sabe respeitar e ouvir a todos os que estão ao seu redor.
Conheci Ivan há mais de 50 anos, quando estudava no Ginásio (hoje Colégio) de Aplicação e ele era o treinador da seleção da escola. É o meu dentista e já tive a oportunidade de, juntamente com ele, colaborar durante muitos anos com o trabalho na Base. Testemunhei inúmeras demonstrações de sua bondade, solidariedade e caráter, mas vou me ater a três casos:
a)    Atendimento gratuito, em seu consultório, a todos os atletas da Base que o procuram, bem como inúmeros funcionários do Clube;
b)    Em vez de presentes em seu aniversário, solicitação de cestas básicas para doação a uma Creche;
c)    Preocupação com a situação de outros atletas, mesmo aqueles que não foram de sua geração, como quando coordenou um trabalho para levantar recursos para auxiliar Caiçara – hoje falecido – nas despesas com seu tratamento com hemodiálise.
Todos os seus gestos de bondade são feitos sem o menor alarde e de forma despretensiosa, ou seja, por pura grandeza de coração. E o mérito é ainda maior por ser uma pessoa de classe média, que depende essencialmente de seu trabalho no consultório e que compartilha um carro popular com sua esposa, Márcia, também dentista.
Assim, doeu muito eu ouvir o desabafo de Ivan Brondi, após a conversa com Paulo Henrique Guerra: “Newton, não quero mais saber do Náutico”.
O cidadão Ivan Brondi de Carvalho não merecia o tratamento que recebeu da atual Direção do Náutico, que deu mais uma demonstração de desconhecimento e desrespeito à história do Clube Náutico Capibaribe.
Mas, como estou ficando velho, devo estar desatualizado com as inovações em gestão. Assim, é possível que a atual Direção do Náutico esteja correta e venha aplicando o que há de mais moderno em termos de Administração, ministrado pelos melhores cursos de MBA.

Observação: Esse texto retrata fielmente os fatos ocorridos, tendo sido endossado integralmente por Ivan Brondi.

Newton Morais e Silva

Conselheiro do Clube Náutico Capibaribe


3 comentários:

  1. Com profunda tristeza tomo conhecimento de fatos como este.

    Carlos Celso Cordeiro

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  2. LAMENTÁVEL ! PROFUNDAMENTE LAMENTÁVEL !

    Não há outro termo para exprimir essa desastrosa série de episódios que culminaram com a saída de Ivan Brondi da direção das divisões de base do Náutico..
    Lamenta-se pelo ex-jogador Ivan Brondi que, como disse muito bem Newton Morais, muito mais que um ídolo da torcida alvirrubra, é um verdadeiro ícone do nosso clube; afrontá-lo é afrontar o próprio Náutico, em uma das suas maiores tradições;.
    Lamenta-se, ainda, pela pessoa de Ivan Brondi, cidadão exemplar, de temperamento afável, cordial, gentil, generoso e educado, mas também um homem de personalidade e de caráter que, embora hierarquicamente disciplinado, não admite nem aceita desmoralizações; desconsiderá-lo foi, no mínimo, uma falta de civilidade;
    Lamento, finalmente, pelo Náutico que, sobretudo nesses tempos de crise, não pode se dar ao desplante de perder colaboradores do nível, da competência e da dedicação de um Ivan.
    Manifesto, aqui, pois, minha irrestrita solidariedade ao meu amigo Ivan Brondi mesmo sabendo que isso pouco aliviará a sua imensa decepção com a administração do clube que tanto ama.
    Finalizando, quero dizer ao Newton Morais – também um grande baluarte alvirrubro, cujo afastamento é outra perda inestimável para as Divisões de Base – que ele e eu poderemos até estar desatualizados com os modernos processos de gestão. No entanto, nas relações interpessoais, de caráter profissional ou não, há princípios que nenhuma teoria, por mais científica e por mais moderna que seja, não haverá jamais de tornar superados e obsoletos. Refiro-me aos princípios do respeito e da lealdade.
    Contudo, dentro da própria Ciência da Administração, há que lembrar uma constatação, argüida por categorizado consultor, que se fez regra assente:
    - “As pessoas não deixam as empresas; elas deixam os Gestores”.
    Afirmativa que eu, em meu estilo pedestre e direto, melhor explicito:
    São os maus gestores os responsáveis pela perda dos talentos.

    LAMENTÁVEL, POIS, PROFUNDAMENMTE LAMENTÁVEL, REPITO.
    DEUS SALVE O NÁUTICO

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  3. Marcelo Lins diz:
    É um verdadeiro absurdo a falta de respeito que esses atuais gestores estão tendo com o ìcone do Náutico Ivan Brondi, demonstra o quanto esses senhores não conhecem o Náutico, demonstra um despreparo na administração e um desrespeito a história do clube.
    Há muito tempo que noto que o "discurso" da atual gestão é uma coisa, e outra bem diferente são suas atitudes.
    Ressalto que há pouco tempo nem mesmo uma bandeira enviaram no enterro de Lula monstrinho, agora esse tratamento ridículo e completamente imoral ao eterno Ivan.
    O que esses senhores pensam que são? Mestres em gestão? ou pessoas que não sabem sequer o mínimo da história do Clube Náutico Capibaribe.
    Apesar de Newton não relatar no texto, é imperioso destacar que diversos alvirrubros fizeram colaborações para a base por confiar em Ivan, e por confiar em Newton e sua imensa capacidade de conseguir doações.
    Além do desrespeito, do despreparo, do desconhecimento, conseguiram perder recursos valiosos de alvirrubros.
    Um dano ao clube não consiste apenas nos danos financeiros como gosta de alardear nosso presidente para os 4 cantos as últimas gestões, e sim também em danos morais a nossa história, a nossos ídolos, como esses últimos atos a heróis do hexa, pois Ivan Brondi e Lula monstrinho se confundem com o próprio Náutico.
    Alguém deveria explicar isso em algum MBA.

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Comentários