A ÚLTIMA PELADA DE JUVINO

Por ROBERTO VIEIRA


Meu tio morava em Carpina e eu passava por lá uns dias nas férias de final de infância. Nesse tempo, um fato aconteceu que me marcou até hoje.

Juvino era o último a ser escolhido nas peladas em Carpina. Ruim de dar dó. Pegava sempre de goleiro e, frangueiro de marca maior, as bolas entravam de monte. Mas a gente não ficava com raiva porque o cabra era ruim mesmo. Ruim não, péssimo.

Um dia, o dono da bola quis pegar no gol. O jogo era contra uns moleques do outro lado da pista e o dono da bola andava encantado com as defesas de Leão na seleção no Torneio Bicentenário dos EUA.

Leão que só defendia embaixo dos três paus. Quando saía nas bolas altas era um terror... parecia o Juvino.

Juvino não foi deixado de fora. Botamos o moleque no ataque. Sozinho, coitado. Lá ele não podia atrapalhar ninguém e como o outro time era muito forte, a solução ia ser todo mundo atrás pra evitar vexame e Juvino parado no ataque pra não incomodar a gente.

Foi o jogo mais doido que já joguei na minha vida. Nós levamos três gols dos desgraçados que moravam do outro lado da pista que cortava e ainda corta Carpina. Três frangaços do dono da bola que a gente fez que não viu pois senão não tinha mais jogo.

Incrível.

Vencemos por 9x3.

Nove gols do Juvino. Nove bolas que bateram nele e entraram na barra improvisada na frente do grupo escolar.

A gente dava um chutão, a defesa rebatia e a bola batia em Juvino e entrava.

Nesse dia, o Juvino foi carregado por todos nós e tratado como celebridade. Um verdadeiro Zico, um novo Dario. Um Ramon.

No dia seguinte e nos outros dias seguintes, Juvino não quis mais saber de bola. Aposentou-se aos doze anos de idade dos campos de futebol. Resolveu estudar, virou CDF e anos depois recebeu diploma de engenheiro.

Despediu-se dos campinhos de terra no auge, como vira Pelé fazer na televisão.

E até hoje, quando se encontra comigo nos churrascos do interior, faz questão de me pedir pra contar sobre a tal pelada.

Sobre o dia em que Juvino marcou mais gols que Pelé e Jorge Mendonça.

E entre um chopp e outro, eu sou obrigado a confirmar a autenticidade do fato.

Para delírio dos quatro filhos do Juvino...

Mas só falo do jogo.

O resto da história o Juvino me proíbe de contar.