20 de fev. de 2015




ROBERTO VIEIRA    



Plantaram juntos a pequena semente no canto do jardim. A semente foi crescendo e aos poucos virou uma planta bela e que brotava flores e frutos na primavera, além de servir de sombra nos dias quentes e intermináveis de verão. Quando olhavam para a planta, ela era a lembrança dos momentos de amor quando decidiram percorrer juntos a mesma estrada.
Anos se passaram, primaveras e verões. Filhos, negócios, contas pra pagar, viagens. Pouco se falavam. De vez em quando, um deles se lembrava de regar a velha planta no canto do jardim. De vez em quando se colhiam frutos e se traziam suas flores para a casa. Quando olhavam para a planta, ela era a lembrança dos momentos de amor quando decidiram percorrer juntos a mesma estrada.
Porém, e no mundo de hoje as estórias se escrevem com muitos ‘poréns’, cada dia conversavam menos, se beijavam menos, se lembravam menos do outro e daquele amor que os fizera percorrer juntos a mesma estrada e plantar aquela planta no canto do jardim.
Nem posso dizer que brigaram, pois nem tempo para brigar havia. Houve apenas aquele adeus silencioso e definitivo, quase sem motivos, exceto o motivo da própria vida que levara cada um em seu próprio e invisível caminho.
Um se foi e o outro restou na velha casa e no velho jardim.
Na tristeza de que é feito o fim do amor, aquele que restou na velha casa e no velho jardim, súbito se lembrou da velha planta largada lá no canto. Pra seu grande espanto, ao se dirigir ao lugar do jardim no qual a árvore fora plantada no começo dos tempos, lá não havia nada senão um velho e abandonado tronco ressequido pelo vento.
Não dava flores.
Não dava frutos.
Mas em sua infinita quietude e tristeza, o velho tronco daquela velha árvore plantada com tanto amor parecia perguntar:

‘Por que demoraste tanto tempo para lembrar-se de mim?’


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