ROBERTO VIEIRA
Plantaram juntos a
pequena semente no canto do jardim. A semente foi crescendo e aos poucos virou
uma planta bela e que brotava flores e frutos na primavera, além de servir de
sombra nos dias quentes e intermináveis de verão. Quando olhavam para a planta,
ela era a lembrança dos momentos de amor quando decidiram percorrer juntos a
mesma estrada.
Anos se passaram,
primaveras e verões. Filhos, negócios, contas pra pagar, viagens. Pouco se
falavam. De vez em quando, um deles se lembrava de regar a velha planta no
canto do jardim. De vez em quando se colhiam frutos e se traziam suas flores
para a casa. Quando olhavam para a planta, ela era a lembrança dos momentos de
amor quando decidiram percorrer juntos a mesma estrada.
Porém, e no mundo de
hoje as estórias se escrevem com muitos ‘poréns’, cada dia conversavam menos,
se beijavam menos, se lembravam menos do outro e daquele amor que os fizera
percorrer juntos a mesma estrada e plantar aquela planta no canto do jardim.
Nem posso dizer que
brigaram, pois nem tempo para brigar havia. Houve apenas aquele adeus
silencioso e definitivo, quase sem motivos, exceto o motivo da própria vida que
levara cada um em seu próprio e invisível caminho.
Um se foi e o outro restou
na velha casa e no velho jardim.
Na tristeza de que é
feito o fim do amor, aquele que restou na velha casa e no velho jardim, súbito
se lembrou da velha planta largada lá no canto. Pra seu grande espanto, ao se
dirigir ao lugar do jardim no qual a árvore fora plantada no começo dos tempos,
lá não havia nada senão um velho e abandonado tronco ressequido pelo vento.
Não dava flores.
Não dava frutos.
Mas em sua infinita
quietude e tristeza, o velho tronco daquela velha árvore plantada com tanto amor
parecia perguntar:
‘Por que demoraste
tanto tempo para lembrar-se de mim?’
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